quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Joe's adventures

[As aventuras de Iron Pussy. Apichatpong Weerasethakul. 2003. Betacam.]

"O belo é brega e o brega belo sabe ser" (Renata Negrão)

Não importa se da vídeo-arte independente underground ou do coração de ferro da indústria cultural; o artista, como a erva daninha, viceja gracioso, rompendo o asfalto mais hardcore ou desabrochando sob a luz mais artificial.
Criatividade - por que tão complexo de explicar se tão simples de enxergar?
Em 10 minutos de projeção a Luah tava convencida já: "Caralho, ele é um gênio Mateus... Ele é o presente, saca?". Exatamente Luah, ele é um presente do gênio de nosso tempo. Não há sombra de dúvidas mais: o Joe é o cara; saca?
É o Godard da nossa geração: revolução a cada plano, o tudo no tudo. O Cinema de Invenção.
São passos de gigante o deste tailandês. Vôos de condor.
O maior último artista.
Tal obra, pastiche ácido em betacam, surra de cinecriatividade, iconoclastia sublime dos trópicos, luz incandescente do brega que belo sabe ser, é mais uma pepita do Midas do cinema contemporâneo; provavelmente, infelizmente, distante para sempre do espectador comum.

Mateus Moura.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Cinema é coisa de macho

[Death Proof. Quentin Tarantino. 2007]

Escopofilia!

E, subsumido, voyeurismo, fetichismo, podolatria, alcoolatria, necrofilia artística, narcisismo, cinefilia... definitivamente Quentin Tarantino é um dos nossos, um homem do nosso tempo; e sua obra, curta e grandiosa, ecoa, definitivamente, o espírito do mesmo; esta, Death Proof, em alta velocidade e embalada pelo som de Dave Dee, Dosy, Beaky, Mick and Titch, é mais um grandioso elogio que o (já) mestre faz à sétima arte. O projeto é o lançamento de um artista contra o seu destino (representado por uma estrada onde o horizonte não se enxerga), e o encontro (logicamente, na documentação da própria estrada) de um tesouro inflamável (senhoras e senhores, novamente: o Audiovisual).
O problema de toda a maioria da população cineasta do mundo é a existência de Quentin Tarantino, espécie de monstro do gênero slasher que caminha com postura de imortal rumo a eternidade. Impossível ser indulgente com o que for depois de reexperimentar o zênite do que uma ferramenta pode fazer. Crítico não “sabe” nada, ele é só mais um (contudo o mais apaixonado) que gosta de falar o que o cinema é vez ou outra, só pelo prazer de extravasar a importância de certas obras para a linguagem que mais lhe toca. Lhes afirmo, com toda propriedade que a minha consciência permite atingir, que o cinema é uma xoxota em shortinho apertada em travelling rumo a privada, é Zoe Bell sorrindo de cano em riste galopando no Dodge Challenger branco 1970 440 HP rumo à caça do monstro “engraçadinho”, é o lento slow no rosto de Abernathy quando seu desespero se metamorfoseia em euforia, é a eterna aparição de cada personagem como se fosse o seu plano de apresentação, é o poder do preto e branco como silêncio para a explosão sonora das cores num BIG RED depois de um big yellow de carro e saia em composição de traseiras, é o momento sagrado que precede a morte (onde 4 maravilhosas amigas na catarse hangout desencarnam no gozo mórbido de um apaixonado inconseqüente pelas personagens das ficções que ele nunca queria sair), é o plano-sequência-tarantino-ápice do “papo furado” na mesa de bar, é uma taberna virar a-histórica, atingindo a mitologia dos espaços entre uma torrencial chuva embalada em jukebox e mensagens de celular contraponteadas por olhares embriagados, são as relações/tensões sexuais dos corpos em coreografias de amor ao movimento_com a câmera, captando/estando entre a dança dos gestos e a dança das palavras.
Um filme sobre 9 mulheres: uma “famosa” DJ negra cool gostosa, uma virgem morena “butterfly” gostosa, uma menina loirinha de boa gostosa, uma madura que traz maconha maneira gostosa, uma outra loirinha não tão de boa gostosa, uma atrizinha loirinha gatinha gostosa, uma maquiadora simpática cú doce gostosa, uma dublê nigga baddass gostosa, e a maior das dublês crazy motherfucker Zoe Bell the cat como ela mesma gostosa. Todas ELAS objetos de olhar, de olhar machista-feminista, todas ELAS seres de desejo, amantes da ação. Filme sobre 1 peeping tom apaixonado pelos obscuros objetos de desejo, monstro-sombra do gênero slasher, homem patético choramingando e de the end com cara amassada pela bota-fetiche. Um filme sobre 2 carros – caubói o caralho, eu sou dublê! O cinema não é apenas o andar de John Wayne, mas, sobretudo, os saltos de Yakima Kanuti! Shane e seu cavalinho que dêem licença, que Kowalski tem urgência em morrer!
O que o cinema é o que o cinema é?? “In one word: emotion”, é a síntese fulleriana para o que o cinema deve encontrar contando sua estórias. O cinema captando o movimento da emoção, o que anima a alma; o espectador não decodificando nada antes de ser fisicamente invadido pelas virgens imagens. Mise-en-scène, Sr. Tarantino, é, sem dúvida, questão de imagens poderosas e não de idéias – imagens estas que ganham centelha de vida entre um “ação” e um “corta”. A quebração de mundo é evidenciar que nem o mais alto diálogo em contexto de guerra pode ser maior que os babados sexuais de garotas em ritmo de filme slasher. Acredito agora que a maior metáfora para se explicar o que é – enquanto sentimento estético - a mise-en-scène é a afirmação categórica de que A MISE-EN-SCÈNE É UM LAP DANCE – um sexo espiritual através do estímulo audiovisual a partir da beleza significante da coreografia dos movimentos.
Não existe amor não existe amor, apenas provas de amor!! Obra única, este Death Proof é sem dúvidas à prova de morte, a prova da vida, a evidência do cinema. Se resta alguma pulga atrás das orelhas e olhos de alguém ao sair de tal experiência cinematográfica, faz-se mister, urgentissimamente, a dedetização; pois, se é preciso renascer para gozar a vida, que se enfrente de frente o maior dos desafios; como um dublê, como os verdadeiros machos da História.


Mateus Moura.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Hora de acordar

4 quadros de concepção da Bela Adormecida, dos estúdios Walt Disney. Palmas à Eyvind Earle (quem????); responsável pelo traço, estilo, cores e planos de fundo dessa que é considerada - não só por mim - a maior animação de todos os tempos.



Mateus Moura.

A chance do Kung Fu

O Assassino de Chantung, de Chang Cheh (Fechando o Ciclo Cinema e Gêneros).

Dia 26 de setembro (sexta-feira) de 2008, às 18:30, no auditório do CCSE/UEPA (Av. Djama Dutra, s/n). DE GRAÇA.

Sinopse:

Um homem com um machado no abdômen, natimorto, luta contra o mundo. A ascensão e a queda desse ‘lutador’ na sociedade de Hong Kong é o assunto de “Assassino de Chantung”. A vingança final se concretizará, todos serão mortos. O vingador, em sua queda, aceita o fim, mas não vai só. Chang Cheh, um dos grandes mestres da sétima arte, pai do cinema de Hong Kong, através de seus zooms e slows nos apresenta o chinês universal: o homem sedento por poder, cobiça, vaidade; e o amor entre irmãos, a vingança e a honra, a vida e a morte. Uma leitura antropológica-sociológica do homem nacional é um elemento presente na filmografia desse grande diretor, que através dos gêneros do Kung Fu e do espadachim – realizados pela produtora Shaw Brothers – nos ofereceu lentos vôos poéticos de seres condenados ao absurdo da existência. Um sangue que jorra como a miséria que se espalha pelos becos e cortiços, onde o único modo de ascender socialmente nessa selva é através da lei do mais forte, através da luta, do kung fu – não metáfora da vida, mas vida em estado de metáfora.

Mateus Moura (Associação de Jovens Críticos de Cinema – APJCC)




"Ninguem deu chance para o kung fu", foi a frase que virou bordão depois dessa sessão no antigo e saudoso Cine UEPa. Na verdade, uma pessoa deu chance: a Janaina foi (justiça seja feita). Não lembro porque a Juliana Maués não foi, mas lembro que ela ainda não tinha se encantado com as artes marciais até então.
Agora, 2 anos depois, ela está se preparando para escrever
pesquisa estética acerca do kung fu e seu maior arauto audiovisual que pretende ser histórica!
Segundo o gurú David Bordwell, o estilo "é a textura tangível do filme, a superfície perceptual com a qual nos deparamos ao escutar e olhar: é a porta de entrada para penetrarmos e nos movermos na trama, no tema, no sentimento – e tudo mais o que é importante para nós”
Em seu livro acerca do cinema de Hong Kong, segundo a Juliana, Bordwell protagonizou a discussão acerca do modo de funcionamento do sistema e como esta arte se vinculou a uma tradição do cinema popular, deixando um pouco em segundo plano a análise estilística de cada autor a partir das obras.
E é esse passo radical, consciente e consequente, que será dado pela estudante desse riquíssimo cinema tão avacalhado.
Escrever sobre a mise-en-scène a partir do "shawscope", da montagem coreográfica dos fragmentos de socos e pontapés, da construção fictícia em figurinos e cenários e d
o sentimento trágico audiovisual é o projeto dessa amante lúcida de Chang Cheh.
O kung fu ganhará outra chance, acredito que a primeira mais consistente em bibliografia brasileira. O templo Shaolin será invadido novamente, desta vez com a violência do olhar e o respeito da lutadora honrada.


Tarantino foi outro que iluminou o gênero, e nos iluminou com uma das obras-primas da década

Mateus Moura.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Projeto Secreto Macacos

[Música em Belém]

Contem a força bruta do primata e a sofisticação rigorosa do aristocrata, o som do Projeto Secreto Macacos, minimalista por excelência, conjuga seus ruídos, silêncios, distorções e bossas num estranho barulho gostoso de ouvir.

HU! HU! HU! HU! Urra delicadamente o guitarrista enquanto o baixo cria a atmosfera depois da pausa e o tecladista volta ao tema principal; a bateria marca, explode e se contrai. Música anti-intelectual feita por músicos inteligentes.

As gravações não atingem nem de perto a experiência de ouvir ao vivo, não sei se por incompetência de quem gravou ou por extrema competência do show que assisti.

Surpresa boa, desse - para mim -, até então, secreto projeto.

http://www.myspace.com/projetosecretomacacos

Mateus Moura.