quarta-feira, 19 de setembro de 2012

/matou o cinema #hà banda dos compositores


Percebendo-se como gênero fique são, MATOU O CINEMA E FOI A FAMILIA, durante seus 5 meses de existência, descobriu vários sub-gêneros; os já visíveis e não nomeados, e os que foram nomeados para se tornarem visíveis.
#parábolas, #sessões cinegráphicas, #imspressões, #grimório, #navegAções, #crônicas, #perifeerias, #autos, #jornalixmos, #reminiscências, #diá   rios
Foram os que surgiram até então, todos com o interesse de abrir trilha para si e para quem quiser se aventurar pelas mesmas matas (e/ou análogas).
Todos esses caminhos nasceram obedecendo à simples urgência de existir, seja por uma resposta política imediata a partir de um fato social (#jornalixmo, #crônicas), seja pelo prazer de se admirar (#sessões cinegráphicas, # imspressões, #diá   rios), seja pela construção de memória/micro-história (#navegAções, #reminiscências), seja pela experimentação e síntese em busca da expressão do silêncio lírico e/ou épico (#grimório, #autos, #parábolas). MATOU O CINEMA E FOI A FAMILIA é um conceito, uma prática e um canal (www.youtube.com/matouocinema).
Tudo o que o cinema sempre fez até hoje foi criar - no suporte da imagem - memória de certos olhares.

#hà banda dos compositores
Este sub-gênero fique são surge da urgência em revelar certos seres que criam linguagem e universos poéticos abrindo melodias e versos.
O “Objeto de 3 coisas”, não obstante, é subjeto de 3 sujeitos: um habitat, e a sua alma nas coisas; a tradução dessa alma pelos humanos, que ali inventaram isso que denominam ‘alma’; o questionamento acerca do que realmente quer dizer melodia, ritmo, harmonia, ruído e silêncio.
“Rede roxa”, “Cadeira de mogno” e “O balanço” são as 3 coisas (objetos, subjetos, músicas, ideias, formas, imagens, construções) que compõem esta peça áudio-visual, que intenciona, entre outras coisas, registrar o universo poético do compositor Fernando Paraense.
#hà banda dos compositores pretende seguir trilha revelando notáveis. Olhares sobre poéticas se farão ouvir. Hàs construções, para trazer à tona as realidades da linguagem.

Mateos.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

MANIFESTO-ME hÀ FAMILIA (no rastro do que sobrou)


0.
Sinto as reminiscências em meu Imaginário se comportarem como pólvora. Os disparos vem em forma de imagens (ou fatos?). Disparos talvez feio festim: divertidos e perigosos, luminosos. São fogos de artífices, fogos-fátuos. O oratório está aberto: 

1.
O homem e a câmera só podem ocupar um espaço (no tempo). A gravação disso na eternidade é transformar em linguagem o fragmento do mundo exterior visível e auditivo. É o milagre da transubstanciação. É alquimia na senda do realismo. É quando olhamos para o símbolo e para o fluxo e ambos fazem parte da mesma matéria-espelho, onde encaramos nossos olhos e o fundo.
O que sobra quando abandonamos todos os ornamentos é a mera sintaxe de justapor imagens e sons, e a mera aventura de fixar num suporte a realidade que certo limite de luz faz a câmera e o humano ver e certo limite de hertz que faz o gravador e o humano ouvir... Então: o que gravar (e como) neste tempo que se derrama? - é a única inescapável questão durante o ato de filmar (estética por excelência: pois é sobre como sinto/e traduzo o mundo do seu/meu/nosso âmago). 

2.
Não to falando de estética da fome, do sonho, do lixo, to falando de “estética da família”, ela engoliu tudo isso, e a Mídia, a Ciência, a Política, a Natureza. Essa Família vive na “qualquer casa”. Ela linka, sampleia, antropofagiza, vomita, mata, ama. O gênero é “fique são”, é uma loucura lúcida do rizoma chamado liberdade. Toma a ilusão por clareza, a clareza por ilusão > encruzilha > gira ~ é a Roda da Esperança, a palheta estelar da Fé.

3.
A proposta de pensar a afirmação da negação da hegemonia do convencionado Cinema, como essa própria frase explicita, não é negação, mas uma afirmação, assertiva e calma, ousada. A Familia não nega nada, apenas assume a posição de negadora, da que não precisa de nada. Logicamente não deixa de deglutir tudo que não precisa, é canibal e glutona por excelência. Quanto à religião: Não, a Família não cultua Entidades, ela cultiva! : encontra a semente, planta, rega, colhe. No instinto do religare, entre outras práticas, se encontram o culto das imagens e a sacralização do ritual, arcanos maiores do fazer cinematográfico. Cinema, Religião e Família é um dos triângulos que regem a geometria cósmica da Eternidade.

4.
Só existirá um jeito do agora de revolucionar. E não será matando a família (de novo) e indo ao (novo) cinema, mas matando o matou o cinema e foi a família assim como o matou o cinema e foi a família matou o matou a família e foi ao cinema. É preciso matar sempre, criativamente. Matar é a extremidade do passo além, da mudança que deve acontecer; e sempre uma volta ao lar, um retorno ao ser.
É preciso sempre voltar a Família, para matá-la.

*fragmentos de notas que não entraram na edição final que fiz do texto "Manifesto-me hà Familia", publicado recentemente na Revista Gotaz (http://gotaz.com.br/)

domingo, 16 de setembro de 2012

MANIFESTO-ME hÀ FAMILIA


Se é do meu Seio que bebem, e ao meu Ventre que retornarão, é no meu Corpo que habitam, e é nele que, levados, rolam, jogam, batem, abrem os caroços de tucumã; engendram minha imaginação. E se sonho todo o tempo, pois sou vida-prima assim, feita de órgãos imaginários, é devido aos devaneios e ações destes seres, vários. Se me chamam Belém, Santa Maria do Grão, cidade das mangueiras, Metrópole da Amazônia, Gaya, não posso debater, me debater, mas amar, receber, ter. Fazer o quê? Nós, cidades, com açaí ou sem açaí, somos todas farinha do mesmo saco: a Família. 
MANIFESTO-ME hÀ FAMILIA

Eu:
Por que utilizo a linguagem verbal para pensar, também, a audiovisual? Porque é assim que o espírito em mim se movimenta. E posso ser infiel a tudo, jamais ao espírito...
E falando em espírito, Espírito, quem fala aqui é uma voz/corpo id-entidade, Um anônimo membro-participador da Família.
Esse não vem falar nada de novo, vem falar sobre o novo que ta aí; com palavras de um agora.
Diz:
O Cinema está morto, e foi a Família. Agora existe outra coisa, que parece retornar em espiral à primeira arte do cinematógrafo, mas que já é outra coisa. O Cinema, mesmo morto, ainda sobrevive, os zumbis sempre existirão; vagam e são belos, e ainda deixam rastros...  Mas já há outra coisa, que existe também no agora, outra coisa que não é o Cinema, mas que não se nomeia de outra forma que não Cinema. É/ou Audiovisual.
De fato:
O que aconteceu é que a Família tomou as rédeas da cerimônia... não é mais a passível receptora das imagens dos iluminados, não se inclina mais às vozes dos sacerdotes, não se espanta mais com o truque dos prestidigitadores, não se encanta mais com o delírio dos profetas... a Família profanou o culto, trans-auratizou a Entidade... a liturgia sacra metamorfoseou-se em festa popular... e é nesse momento que o índex parece receber sua vingança; os Livros, as Regras, as Estéticas, toda essa Tradição Maravilhosa que, não obstante, sufoca o Novo, está sendo queimada na fogueira de São João, espancada pelo porrete de Exu.
A voz murmura, à vós?:
Aqui é o distante do Brasil, não tem contexto econômico apropriado, não tem técnica ou maquinário avançado, não tem sobras de expediente temporal adequados para fazer o tal Cinema... Ótimo! Matemos o Cinema, o tal... Não fui eu, nem tu, foi a Família! Há Tao! 
Foi a Família que empunhou câmeras para filmar seu diário de impressões sobre a realidade, foi a Família que resolveu comunicar sentimentos a outrem na forma audiovisual, foi a Família que resolveu fazer denúncias do que considerava injusto a partir do rifle de captura do presente, foi a Família que despudoradamente registrou os seus momentos mais íntimos, mais perversos, mais sacanas, foi a Família que quebrou os tabus, a indústria, a elite, foi a Família que ousou conectar todo o mundo numa rede invisível para compartilhar universos.
A Família é bagunceira, é espontânea, é barroca, é barraco, é canibal, é bárbara, é aberta, é pagã, é pã. Lincha o bandido sem culpa, degola a galinha, assassina o parente, invade a propriedade, inventa na miséria, ocupa a rua, corteja pelo centro, escarnece do imposto, avacalha o plausível, se embriaga de si. É a insurrecta incoerência lúcida do revolucionário, a sofisticada intimidade intuitiva do primitivo. Fusão entre o diletantismo militante e o militantismo diletante, o Cinema feito pela Família parte da necessidade primeira do prazer interno de religamento com a existência e o ser. Seguindo os princípios da sevirosofia (sabedoria do “se vira”), a Família é uma entidade com fins criativos-destrutivos (enfrentativos). Erótica, ótica, ouvidos abertos, tapada, nós-outros. Somos todos atores do nosso complexo. Édipo. Transeunte.
A poesia sonha, deus realiza, a máquina eterniza, o homem fabrica. Na dramaturgia do caos, atos. A Comédia Humana & Imortal, dissolvente de estereótipos, acredita acima de tudo no acaso. E como o Cinema não está no campo das artes, mas no campo das linguagens - como a língua escrita não é só feita de romances, dramaturgias e poesias, mas de ciência, filosofia, bula, diário - assim, aprendeu a Família esta linguagem, e hoje faz cartões, bilhetes, pixos, garranchos, manifestos, respostas, postais. A Família ta cheia de cinegraphistas, esses photógraphos dos vinte e tantos frames por segundo, vulgarmente não-conhecidos como os embusteiros do tempo.
A Vida é uma ilusão, o Sonho é uma ilusão, o Cinema é uma Ilusão. Só a Respiração é Real: o movimento de sucção do Mundo para dentro de um Ente (inspiração), a pausa, e o movimento de expiração (quando o Ente devolve ao Mundo o que o Ser formatou no intervalo). Não é um movimento MEU, nem TEU, é um movimento da VIDA, que participamos ademais, às vezes. A Criação é algo extremamente individual & extremamente coletivo: é o símbolo da alteridade. O que chamam de “estilo” é figura retórica para expressar o que é da categoria do acidente (o ego em corpo que se configura enquanto identidade). A substância que NÓS somos é a Família, eu/tu/ele é um acidente dessa essência. Um no Zero. 0
A Voz diz, à vós diz:
Não é tão-somente acerca de Arte o que está acontecendo, mas de um novo Realismo, a partir da realidade e das ferramentas. Tecnologia nova, linguagem antiga (se reformulando: estética não estática, antes em busca do extático, é a ética de auto-descoberta-do-outro).
Porque a Família à Família grita:
A-vida-deve-ser-um-dado-lúdico. Não deve haver diferença, na tela, entre o real e o imaginário; assim como não deve haver diferença, para a mente, entre a reflexão em conceitos e a ação em formas: todos devem caminhar para as essências. Entre-mentes: é o convite de entrar; viver, de novo e sempre, o que é o primeiro de tudo: a mentira – só esse atravessamento é verdadeiro. “Fazer arte” é se exprimir com a responsabilidade da liberdade sendo linguagem. É naturalmente um movimento ético e simbólico (estético), da alçada do delírio & do artifício. É onde, finalmente atravessado no/pelo mundo, o ente está pleno em sua solidão, e de fato é o Um integrado. A Família é o Zero. 0000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000. Somos Um no Zero.
A Família não tem infinitos olhos, mas infinitos olhares.
Do meu olhar (é só minha forma de apontar a vida... flecha) do agora, saiu >


< E de enfim, e depois de tudo isso?
Zero. Um. Vaga.
Neste mar de potência, por que rio remarás, cabano, caboclo, urbano, humano? Quem és, a que fostes destinado?, pergunta a cidade.

*ilustração de Leandro Bender
*publicado na revista Gotaz (http://issuu.com/gotaz/docs/revista_gotaz_final_web/5)