quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A ponte

p.s: Me perdoem os ponderados. Como só aos santos é destinada a dádiva de vivenciar o amor, só aos radicais é destinada a dádiva de perscrutar a ideia.

A ponte
esteganografias rarefeitas acerca do "Zé", do Gita


Troco todo o luxo requintado d’Os Gigantes da Montanha pela miséria, de lixo e luxúria, deste pé rapado Zé. Rua ou caixa preta, pouca importa, o espaço é uma questão de gesto.

Há um abismo entre o corpo e a voz, e o ritmo. Que nos deixa tontos.
Nomeiam este abismo, TEXTO.
É feito de punhais mortais que não vemos, de olhares que se encaram apenas nas elipses, de uma cama imunda, recheada de penas e molas, que rangem delírio e desejo - onde deitamos, para gozar e se foder. Nessa ponte que somos, com os atores, nós-espectadores, atamos nosso atávico absurdo. Atroz crueldade.
É claro e concreto, nesta cena obscura, que a raiz estuprada desta terra fria – matéria lapidada por brutas pulsões e marciais artes - se chama TEATRO. Ou em antigos&novos termos: ‘vida-morrendo’. É pra sentir no espírito, num tempo efêmero e inimitável, a vida-morrendo, que compactuamos, sacrificamos os corpos, dedicamos olhares... por um tempo, onde transcendemos na imanência. Onde inundam-se as pontes.
Na ode singela deste escorpião sou grato à Elise Vasconcelos, Tainá Cardoso, Tainá Lima, Fabrício de Souza, Geane Oliveira, Cesário Augusto, Edson Fernando, Sônia Lopes, Aníbal Pacha, Evelyn Loyola, Denis Bezerra, Fernando Marques e George Büchner por este mergulho, ou melhor, por este afogamento. Assassinato. Latrocínio.
Porque o inferno tá lotado de coisas lindas, mas é pelas coisas fodas que ele é governado. E, nesse caso, não foi o céu que desceu, mas o inferno que subiu. E o que está em cima é como o que está embaixo, o que está embaixo é como o que está em cima. Descemos para subir, avançamos para retornar.
Há um abismo que nos deixa tontos.
É o ENCONTRO.

Mateus Moura.