sábado, 18 de fevereiro de 2012

pequenas palavras de Grandes lições


Lembro que a primeira vez que me deparei com esse cartaz achei o mais belo que já tinha visto. Algo nessa imagem me emocionou profundamente - sem eu poder explicar o porquê (como uma melodia). Não conhecia o autor, não conhecia o filme.
Ano passado conheci Jean Eustache com "A mamãe e a puta", e cansei de dizer que foi o filme mais belo que assisti em 2011. Há muitos eu emprestei, e muitos não entenderam o porquê de tanta empolgação.
É que Eustache é daqueles revolucionários que sussurram, daqueles vanguardistas que simplesmente filmam como os pioneiros.
A grande lição de Eustache para quem tiver ouvidos para ver e olhos para ouvir é que o cinema não é arte. Categoricamente afirmar isso é um tão pouco que quase nada. O cinema é um desses mistérios que o homem descobriu há mais de um século e que deu à humanidade a oportunidade de repensar os sentidos da visão e da audição, os sentimentos da memória e tudo que advém disso, a relação com o limite e a duração, a fantasia e o sonho, a documentação e a história, a realidade e a gravação (linguagem + ontologia).
A grande lição do cinema não se dá de melhor forma que não nessa oportunidade de ver se desvelar os pontos de vista que a câmera de Jean Eustache ocupa para cada cena, ou de contemplar o momento precioso que nossas retinas aguardam liturgicamente a bênção de cada fade-out.

“Lembro-me de caminhar em Paris, de Montparnasse ao bairro XVIII, de caminhar a pensar, como numa caminhada que trouxesse o tempo de volta. Quando cheguei a casa, a minha avó falou-me durante muito tempo. Tive a impressão de que me falava de coisas importantes. Quando lhe disse: “Mas, escuta, temos de registrar tudo isso”, ela respondeu: “Mas enfim, são coisas que não são bonitas”. “Isso não me interessa”, respondi, “é preciso registrar as coisas, bonitas ou não, elas são importantes, elas são grandes”. Arranjei algum dinheiro para comprar película a preto e branco 16, aluguei duas câmeras, pedi a Théadière que cuidasse delas e a Jean-Pierre Ruh que fizesse o som. E o tempo do filme, foi o tempo da película, as duas câmeras a funcionar alternadas, de seguida, sem corte. O filme era assim a história da película, do início até ao fim. Ao mesmo tempo, como era cineasta de profissão, era um filme de cineasta profissional e um filme de família, um filme amador em 8mm na praia” (Jean Eustache)

Mateos.