segunda-feira, 2 de setembro de 2013

As caras velas que sopram as veladas velas

"Terreiro de Iyá" é mais uma prova de que o cinema - principalmente os do filão que se rotula "documentário" - está caduco; que pouco importa para 'a busca da verdade' se o filme é um "curta-metragem", um "média-metragem" ou um "longa-metragem"; que as câmeras e a vontade de registrar (olhar sobre a realidade imaginada ou olhar imaginário sobre a realidade) estão nas mãos da Familia.
Não se preocupem compositores malditos, pajés centenárias esquecidas, vosso canto não será mais negligenciado por uma classe que detém o poder de manipular o tal do cinema enquanto os mesmos choramingam verba estrangeira, assim como vossos rituais não serão mais formatados num pacote audiovisual institucional, assim como os tesouros históricos de vossos relatos não serão mais arquivados nas prateleiras mofadas do ostracismo cultural. Agora existe uma geração que, pelo próprio impulso de suas almas inquietas, pode escutar o chamado para recontar essas tantas histórias, ainda tão mal-contadas.
O que é o tempo quando o batuque começa?
Qual a responsabilidade diante do último brilho de um corpo que detém toda a sabedoria do esoterismo amazônico?
É por enfrentar esses dois dilemas-complexos, do cinema & e da vida, que este filme tem toda a minha admiração. E, como sei que estes são apenas os primeiros suspiros de uma estrada que promete mergulhos cada vez mais profundos, vida longa aos seus realizadores... AXÉ!

De Natal, ao avistar essa estrela de Belém, escrevo este postal.

MATOU O CINEMA E FOI A FAMILIA!

Aqui o link do filme:
Terreiro de Iyá

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Oficina de Formação Cineclubista na Construção do Cineclube do Curso de Cinema

MATADOURO E POTEMKIN apresentam

OFICINA DE FORMAÇÃO CINECLUBISTA


Não existe escola maior de cinema do que assistir as obras audiovisuais de seus realizadores. Um ano de estudo sobre o “neo-realismo”, sua importância histórica e analise dos seus conceitos filosóficos não valem mais que assistir aos 10 minutos finais de “Alemanha, Ano Zero”, de Roberto Rossellini. 
Nada substitui a relação do espectador com um autor e suas ideias enquanto forma. Pode-se decorar datas, saber responder a formulários de múltipla-escolha e até resolver questões subjetivas embasadas em tal ou qual referencial teórico, mas a RELAÇÃO ESTÉTICA – ou em outras palavras, o 'acontecimento erótico das almas na senda sagrada da eternidade' - é insubstituível e insuperável.
O cineclube é o apagar e o acender das luzes. No seu momento escuro seu intuito é cultivar esse tipo de relação, insistir sempre pra urgência desse contato. 
Mas também existe o acender. A outra viagem, depois da inconsciente. A que retorna, através da memória, ao filme, e que cutuca, com a vara da razão, as imagens. É o momento da comunhão da consciência; quando todos os espectadores – que em outro momento, uníssonos, olhavam a tela – agora se olham nos olhos, partilham olhares. É a movimento DIALÉTICO. 
Na prática cineclubista o que se busca é a instauração do espaço da aprendizagem, onde não existem hierarquias, mas troca de conhecimento. O filme como esfinge e o cinema como enigma revelam o percurso eterno dos peregrinos, que, em roda, desejando se descobrir, trocam impressões acerca dos mistérios partilhados. O cineclube é um produtor de imaginário, e, ademais, um estimulador do senso crítico. Receptivo e ativo, num movimento constante em busca de equilíbrio. 
Ele pode assumir várias funções: sociais, culturais, espirituais, políticas, científicas, pedagógicas, catárticas, profiláticas. Depende dos cineclubistas. 
Esta OFICINA DE FORMAÇÃO CINECLUBISTA tem como foco a criação do Cineclube do Curso de Cinema. O que será, só seus construtores poderão descobrir. Aguardamos todos os interessados para a obra... 

Ministrante: Mateus Moura
Produção: João Luciano e Arthur Alves


Local: Auditório do Atelier de Artes do Campus Guamá - UFPa

Programa:
Dia 12 (segunda-feira)
14h as 18h
- Apresentação da oficina e dos projetos (Matadouro e Navega)
- Discussão acerca da importância dos projetos de extensão para credibilização do curso institucionalmente 

- Reflexões sobre o cineclubismo e sobre que cineclube querem montar:

a – o que é um “cineclube”?
b – A importância em cada contexto
c – Os papéis do cineclubista
d – As funções do cineclube

-Os processos na prática cineclubista:

a – pré-produção (estudo, curadoria, comunicação)
b – produção (montagem técnica, condução de debate, apresentação de conceitos, registro)
c – pós-produção (divulgação do registro, construção da memória)

- Aula sobre a “montagem do circo” (estrutura)


Dia 13 (terça-feira)

14h as 18h
- Como montar uma cinemateca própria?
a – Discussão acerca da pirataria
b – A fraternidade cinefílica

- Montemos a programação:

a – Quais os critérios?
b – Que funções cada um assumirá?
c – Qual o espaço? Como conseguir a infra-estrutura necessária?
d – Quais as duvidas? 
e – Proposta para uma programação semestral

sexta-feira, 21 de junho de 2013

INSCRIÇOES ABERTAS PARA O SEGUNDO MODULO DO CURSO DE CINEMA ASIATICO CONTEMPORANEO NO SESC BOULEVARD

APJCC apresenta:

A “Ordem Monge Takuan”
O monge Takuan, personagem histórico no Extremo Oriente, foi considerado um dos maiores mestres de todos os tempos, e foi guru do mais famoso de todos os samurais: Myiamoto Musashi.
É clichê, na história e na estória, principalmente oriental, que um caminho espiritual tem em seu percurso uma importante ponte chamada conhecimento. É de suma importância que o samurai (assim como qualquer outra casta social) atravesse-a, reconheça na caminhada o que a Humanidade construiu (e que lhe dá suporte) e peregrine então com o timbre dos próprios passos.
Esse momento mais detido de estudo, na época de Takuan e Musashi, se realizava, normalmente, num longo exílio, onde o aprendiz estaria só, com os livros mais importantes dos grandes sábios indianos e japoneses.
Hoje, alguns séculos mais tarde, temos, além do suporte da palavra caligrafada, outras pontes de conhecimento, dentre elas, o Audiovisual.
A justificativa desse “projeto de ordem” parte de: 1) uma lúdica pergunta e 2) uma lúcida posição política:
1) Quais seriam os filmes que o Monge Takuan selecionaria para um aprendiz?
2) É preciso que, na cidade de Belém, se exiba/discuta/cultive o universo chamado cinema oriental!
A “Ordem Monge Takuan” é um estímulo a certa disciplina nesse sentido, e uma sacralização, enquanto ritual nomeado, de uma ação com tais sendas de vivência espiritual abertas.

Idealização: Mateus Moura e Cauby Monteiro (APJCC – 2011)
Texto: Mateus Moura (APJCC – 2012)

SESC apresenta:

Curso de Cinema Asiático Contemporâneo: enfim às Índias

Se houveram vezes na História do Cinema em que os EUA trouxeram a novidade, ou a França, a Itália, o Brasil, a URSS, hoje, sem dúvida, é dos países do Extremo Oriente que surgem os objetos mais notadamente não-identificados. Afora o movimento forte de vanguarda, parece vir de lá, como se não bastasse, o melhor “cinema clássico”, assim como o melhor “cinema comercial”.
Tais cinematografias, por se tratarem de obras experimentais e/ou distantes, tem circulação restrita a poucos circuitos alternativos. Devido a essa falta de acesso, acabamos creditando a outrem o pódio que outros mereciam ocupar.
O “Curso de Cinema Asiático Contemporâneo: enfim às Índias” propõe uma grande navegação a esse inexplorado continente, tão rico e fascinante. A cartografia deverá ser crítica, os olhos nus e a vontade de exploração criativa. Serão 4 módulos, 2 cineastas perseguidos em cada. Enfim às Índias, sem sair do lugar.

Módulo 2: A vida como ela é, uma vez
(HONG SANG SOO & JIA ZHANG-KE E A ORIGEM DO MUNDO)

Se gênios do cinema como Yasujiro Ozu, Roberto Rossellini, Eric Rohmer, Jean Eustache acreditaram na máquina audiovisual como esse aparato que ao revelar o mundo constrói um universo, é porque seguiam a máxima hermética que o que está do lado de fora é como o que está do lado de dentro. Verdadeiros mensageiros alados, ao deslizar as encostas do caminho que trilharam, engendraram em seus momentos de comunicação com o mundo, fiéis epifanias, tecidas de arte e milagre.
Hong Sang-Soo e Jia Zhang-Ke, herdeiros contundentes deste cinema que Louis Lumiére, Robert Flaherty, André Bazin, Cesare Zavattini sonharam outrora, são, enquanto orientais (ocidentais), indivíduos ícones de nossa era.
Os personagens do primeiro são sempre homens-artistas-perdidos, perdidos com sua mente e a vontade inelutável de criar, perdidos com sua pica e a vontade inexorável de copular... Em “Noite e dia”, em cena antológica e ontológica, numa exposição dos quadros do realista Gustave Courbet, o casal discute, perscrutando o quadro, se ele se chama “A Origem do Mundo” ou “A Origem do Homem”. O diretor coreano Hong Sang-Soo, ao originar o seu mundo no espaço do tempo de um plano, retorna sempre às origens do homem & ao originar no personagem o homem segue sempre em direção ao mundo. Assim como o quadro que está na parede do museu não é nada além de uma superfície com tintas, o universo que se projeta fantasmático não é nada mais que luz de um outrora aprisionado. A vida como ela é, uma vez.
O segundo, o chinês Jia Zhang-Ke, impressiona com o seu faro de observador atento das superfícies mais profundas. Vê no cinema, claramente, sacro ofício de uma função: registrar o Mundo. Tarefa paradoxal em sua subjetividade-objetividade, labiríntica em suas entranhas, a arte de gravar é, em seu livre-arbítrio, problema ético dos mais complexos.
Em “Em busca da Vida”, filme onde registra o drama de cidadãos se adequando às decisões da nação, Jia traz a tona o homem em sua relação mais direta com a existência. Lembrando sempre da ficção inerente à construção artística, não obstante, nos recorda sempre que há um narrador, e que toda verdade só pode brilhar envolta neste olhar terno e desconfiado chamado mentira. A vida como ela é, uma vez.
Era uma vez...

Idealização e texto: Mateus Moura (APJCC – 2013)

SERVIÇO:
Módulo II – A vida como ela é, uma vez
09, 10, 11 e 12 de julho
De 10h as 13h
No Sesc Boulevard
(Av. Boulevard Castilho França, 522-523 – Campina)
INSCRIÇÕES ABERTAS – de 02 a 12 de julho, das 10h as 18h – no Sesc Boulevard  – VAGAS LIMITADAS

sexta-feira, 22 de março de 2013

Mythos Vigo



Por que “O Atalante” sempre acalentará os que indelevelmente foram envolvidos por esse manto chamado Cinema?
São várias razões, e todas elas caminham pras essências.
Primeiro é que Jean Vigo é um grande observador da vida invisível, aquela que paira como uma atmosfera. Seu gênio adentra a realidade dos sonhos, colhe os sentimentos humanos mais profundos, os medos mais puros, as sensações mais patéticas, as emoções mais espontâneas. É um visionário do é.
Segundo é que Jean Vigo é um grande observador da vida visível, aquela que pulsa na pele. Sentimos fisicamente o desejo (o que anima o ser), em todas as suas faces: erótica, aventureira, curiosa, fatalista, amoral, bruta. E, além da pele, a realidade social (as sombras da “cidade das luzes”), com suas filas de desemprego, suas fúteis vitrines, seu teatro de bonecos, sua sujeira, seu abandono... e seus incríveis sobreviventes.
Todo grande cineasta, necessariamente, é um grande observador. E Jean Vigo é o que é porque tinha Olho. Enxergava, além, mas acima de tudo aqui, pro fundo; navegava, aportava, mergulhava. Jean Vigo abria os olhos dentro d’água, acreditava!
E com toda essa crença na vida ele a transfigurou completamente. Inventou uma forma que era pura invenção, para reencontrar o que se escondia atrás das formas.
Nessa grande aventura, onírica por excelência, o poeta montou sua trupe, de atores iluminados, de um grande operador de câmera, de um delicadíssimo músico, de um barco, e vagueou em busca daquilo que era sublime, daquela beleza que abraçava tudo o que aparentemente nada tinha a ver com o belo, daquela alquimia que só poderia existir uma vez (impressa por uma luz numa película), daquela anarquia que só desejava expressar a verdade de um mundo (e que pra isso abandonou o tolo raccord, a velhaca verossimilhança, o instituído).
Em tom de fantasia, transportou, num vôo sincero, o insustentável peso da realidade. Relembrou-nos que é feérico o mundo em que vivemos! “O Atalante” é um colírio para re-percebermos o mundo encantado que flui ao nosso redor: o “homem comum (que comanda seu barco pelo tempo, entre o cotidiano e o cio)”, o “velho lobo do mar (bufão que tudo experimentou e que nos guia, meio diabo meio mago)”, a “mulher-criança (sonhadora, aventureira, cuidadosa, livre, fértil)”, o “caixeiro-viajante (suas andanças e seus truques, seu ímpeto de aventuras e suas máscaras)”, os encontros/desencontros, os símbolos inescapáveis, as alegorias ambulantes, os agouros, os milagres.

Se o Cinema – uma máquina que grava fragmentos de um devir, reagrupa-os num tempo que se cria, funda um mundo – pode existir, por que não poderia acontecer de um disco ser tocado com o dedo? Afinal existe eletricidade, rádio... coisas tão absurdas quanto. A vida, ensina Pére Jules, é recheada de mistérios que muitas vezes nossos olhos não percebem, cegos que estão pela razão. A vida é mais que a razão!
Próximo do nascimento, na fase da infância, ainda temos, como grande aliada dos olhos, antes da razão, a imaginação.
Se os olhos são o fruto que se doa e se recebe em verbo (olhar), a imaginação é a semente (a centelha) – a possibilidade da criação.
Vigo, muito próximo naquele momento da volta ao ser (ou em outras palavras, da Morte), apontou sua máquina como que se despedindo de tudo aquilo de visível e invisível que amara nesse plano que o quadro limita (a Vida vista). E (visionário) já grande observador do que viria, trouxe, através da imaginação, aquilo de essencial, antes-além do corpo, do olho, das relações, das condições. E pelo oráculo do cinema imprimiu isto de eterno, que só podemos enxergar se acreditarmos, se ouvirmos a canção que os dedos tocam e que o cinema, limitando um quadro, pode criar ao conjugar as substâncias do som e da imagem.
Essa dança que Vigo traduziu alguns chamam de Mundo. Esse corpo que dança, fantasmático, e que nos acalenta há mais de um século, se chama Cinema.
                                                        

                                              
Mateos.

domingo, 10 de março de 2013

quadro A ILHA quadro

Link abaixo de uma matéria sobre o Coletivo Quadro a Quadro e "A Ilha"

"Quadro a quadro, ou o cinema paulatino independente", por Patrícia Lino
http://tinhapaixao.blogspot.pt/2013/03/10.html