domingo, 7 de outubro de 2012

O registro e o nada


“Sou um cara de fala atropelada
quando tomo bolas
como não as tomo
Sou um cara de feições caladas”
(Ventre Livre -Fellini)

 Há algum tempo que o espírito que se acorda em mim não toma como prioridade a “crítica cinematográfica”; supostamente matéria, que este blog, de início, se pôs a, sob os filtros subjetivos, iluminar objetivamente?

Primeiro post foi assim:

“segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Alo alo

Sobre cinema, blog pessoal, liberdade de falar disponibilidade de ouvir, publicação informal, simples e sério, contradição, eu.

Mateus Moura.”

Desde cedo o falar sobre cinema me interessou sob a forma de abordagem mais próxima do ensaio... “cinemateusmoura.blogspot.com.br”... junção em um do meu nome social ao cinema, era, profissionalmente, o caminho que tinha escolhido trilhar, o máscara que, na ágora, tinha elencado vestir. Ainda é assim? Ainda é por isso que o tal do espírito se coça, ou que o tal do ego se apresenta?
“Si né” mateus moura, talvez fosse mais honesto. “Si” sendo esse olhar-espelho pro fundo é terno. “Né”, um empréstimo do francês: o , que em português se grafa “nascido”. “Mateus Moura” a grafia-assinatura da máscara social, e que já se encontra até anacrônica, já que assino “Mateos” aqui, desde http://cinemateusmoura.blogspot.com.br/2010/10/das-nuvens-etereas.html.
Enfim, é inevitável, pelo menos na minha parca experiência, que o fluxo atravessa todas as correntes da coerência. É inevitável que a unidade daquilo que flerta com o irracional, seja, no mínimo, de formato geométrico mais curvilíneo que um quadrado. “Se, né Mateus Moura?”.
Se.
Se reconheço, de dentro olhando como de fora, que já não sou mais o mesmo, nem nunca quis um futuro onde fosse o mesmo, é preciso, ainda com um esforço da razão (a mais misteriosa das ferramentas), esse exercício da escrita (que conjuga trampolim e fotografia, o salto e o congelamento).   
Nesse meio tempo, de uns anos pra cá, o espírito arrumou sarna no teatro, na música, na religião, na comunicação, na performance, na permacultura, na literatura. Todas essas experiências alimentaram o que penso sobre o mundo e as imagens. E se escrevo muito menos sobre cinema hoje é porque estou ocupado a pensá-lo dentro de sua própria linguagem. E fora. Que sempre estou a Olhar todas essas áreas, e a construir imagens, e a decupar pensamentos, e a engendrar encenações e em me admirar com o registro e seu poder de transfiguração. Em todos esses outros campos e linguagens sou, indelevelmente, um bicho que foi picado pelo cinema. E, não obstante, sou aquele que vai trabalhando a linguagem audiovisual diariamente e que é influenciado por todas essas outras experiências.  
Sim, ainda é o Cinema a Grande Sarna, e eu um vira-lata mazoquista a mordiscar meu próprio couro... cinemateusmoura ainda faz sentido, mas esse blog não é mais apenas sobre cinema (há algum tempo), mas sobre esse olho que carrega o cinema como cicatriz, assim como o nome.
Mas, relaxa, que toda essa galhofada morfológica não é nada não, é pura punheta intelectual, com infantis fins de gozo ontológico. Exercício de puro engodo. Mera digressão simbólica. Não muda nada.  apenas registro dessa volta no círculo do vazio.

É que cada dia mais me interessam esses dois fenômenos: o registro e o nada.

“Gosto de bicho
Gosto de gente
Quando estou contente
Quando estou contente, sou um bicho de olho reluzente”
(Ventre Livre -Fellini)
Mateos.