sexta-feira, 18 de março de 2011

Amanhã é dia de cinema em Mosqueiro

Amanhã tem exibição do "D.Juan" em Mosqueiro na pré-estréia do novo filme do Márcio Barradas, "Os Comparsas". Admito que estou mais ansioso para assistir o filme do Márcio que qualquer coisa (além de poder assistir o seu curta experimental "Coração roxo", que nunca tive oportunidade). Outro presente é a presença do meu comparsa Miguel Haoni e da minha comparsa Isabela do Lago no elenco.
Só prazeres e honras, amanhã é dia de cinema em Mosqueiro.

Mairí Produções apresenta:

"Os Comparsas", filme de Marcio Barradas




e os curtas:
"Coração Roxo" de Marcio Barradas e
"D. Juan" de Mateus Moura

Serviço:
dia 19 de março (sábado)
às 20h00
no Espaço Praia Bar, na Praça Matriz em Mosqueiro
Classificação indicativa: 18 anos
ENTRADA FRANCA

Realização:Mairí Produções
Cineclube Amazonas Douro
Associação Paraense de Jovens Críticos de Cinema
Informações: 8356-1799

quarta-feira, 9 de março de 2011

PRIMEIRO TEASER

TESTE DE SOM



esse trenzinho do caipira trilhando trilhando hora chega na estação Ciotat.

terça-feira, 8 de março de 2011

AS COISAS como são (?) – se arranhando entre parágrafos

São ou estão? Foram, serão. É, as coisas, sempre as coisas... a partir da existência.
Fritz Lang em Le Mépris expõe “como se sofre”, pois para se fazer cinema apenas os sonhos não bastam.
O Rafael Couto diz que toda identidade pode ser categorizada barrocamente de forma dual, tratando/entendendo as coisas de um lado luz e um lado treva, vício e virtude, etc... Ao produtor, para a virtude do êxito existir é necessário o vício da ambição caminhando lado a lado. Assim é o ator com a vaidade, e assim é o criador com a loucura. No âmbito do
caos, no entanto, habitarão as regras, e o dual, reconheceremos primeiro que é mais que dual, para depois concluirmos que é uno. É o prisma o buraco negro.
Mas, focar focar! Limitar, é importante. O limite é o pequeno caos, notadamente aquele que comunica o grande caos, com estilo. Sim, focar, sem profundidade, nos olho
s::::::::::::::::::: close-up.

Vamos focar nessa questão da dificuldade de se fazer cinema. Sem puxar sardinha, nem choramingar de vira-lata. Só humilde reflexão... a partir da existência.
Com o que perdemos tempo? Com o que ganhamos tempo? Como aproveitamos ele, o tempo, para nossos projetos?
O que cada um pode espremer do tempo?
Queria muito a figura do produtor ao meu lado, que espremesse do tempo o dinheiro necessário para a sustentabilidade dos projetos sonhados, as agilizações das locações, as construções das possibilidades pragmáticas, as realizações dos detalhes de pré e pós, e tudo mais. Alguém que simplesmente fosse fascinado pelo seu trabalho, que fosse um gênio da lâmpada, um realizador de sonhos, um gestor de idéias, um agente catalisador, um processo físico de ressublimação.
Como se sofre quando não se consegue espremer do tempo aquilo que poderíamos espremer! Fazer afirmações categóricas dizendo que o cinema é uma arte coletiva, ou que o cinema é indústria eu acredito que são reduções. Mas já compreendo, a partir da existência vivida, que um certo cinema – e que me interessa bastante – passa por tais caminhos.
O Ser deve ser afinal esquecido um pouco para a Coisa se materializar? É preciso, para não ser navalhado pelo Processo, mergulhar-se nele enquanto Ator e esquecer um pouco as angústias da alma para interpretar-se enquanto máscara social? É preciso, para esse Sonho fulgurar não apenas detrás da retina, aprender os passos da dança política no manual da burocracia? É daí que vem o gemido de Tarkovski – que era tão mais preocupado com questões metafísicas – de que o cinema é uma arte triste de se fazer?
Escuto um amigo dizer o quanto ele está feliz escrevendo solitário o seu romance... e como ele simplesmente desistiu de fazer cinema para escrever – que é muito mais possível e prazeroso, pois sem gente e tecnologias, dinheiro e produções... Caneta, papel, criatividade, trabalho! Sim, e quando não se escolhe algo? Quando simplesmente não se pode dormir?!
É uma droga – das pesadas – o cinema! A suspensão de um REC é um pico na veia, a capturação de um fragmento mágico de realidade é o prazer adrenalínico do cleptomaníaco, o vislumbre de uma montagem se encaixando é o transe da besta humana no girar homicida da adaga, a renderização é a ejaculação fervendo do necrófilo, o primeiro play a alucinação do moribundo em seu último estertor! Não há hipótese de descrever sensações inefáveis como tais. As suposições, bem dizia Satyr, são para os tolos, a vivência é para os sábios.
É uma estrada só. Quando mais se vê cinema, melhor se enxerga a vida; quanto melhor se enxerga a vida, melhor se compreende o cinema. Quanto melhor se compreende a visão, mais se apura o olhar. E logo a mente, o sonho, o Eu, o contemplar. Se aprende vi-vendo. Se a aprende a filmar vivendo, se filma pra aprender a viver.
Plantar uma árvore, escrever um livro, ter um filho, grande merda! Realização mesmo seria colocar uma escola de samba na avenida, conjugando perfeita e inventivamente todos os quesitos de um desfile. Ou criar uma religião: converter fiéis, criar uma simbologia e rituais que perdurem gerações, inventar um conceito e um imaginário tão fortes que civilizações se destruam por ele.
Ou apenas fazer um filme à maneira do sonho pessoal, proporcionar à eternidade o efêmero construído.
Como pudermos façamos enfim, materializemos essa luz que ofusca onírica.
Transubstanciação. PRIMEIRO, e antes de tudo, e depois, depois de tudo. As coisas, é.

Mateos.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Relato de uma emoção Nick Ray (II)

"A arte lírica é a mais violenta e a mais violenta a mais lírica", disse sobre o cinema de Fuller o português José Oliveira. É sim o cinema de Fuller; e sempre um apaixonado fui por isso, assim como por Buñuel, Lang, Bava, Tarantino, Ray. "O crime é consequência de uma grande emoção mais direta que o amor", diz o pergonagem, alter-ego de Lang, em O segredo atrás da porta - personagem onde a maior prova de amor é o assassínio do ser amado.
Em
In a lonely place é este o movimento emocional chave, que estabelece a matéria-prima desta poesia maldita: a paixão - que se materializa em versos, socos, afagos e tolices. Um homem dominado pela paixão só pode cometer as maiores façanhas, e as piores decepções. Não há meio termo, em cada ação é a vida que se arrisca - de si e daqueles que o amam.
O set-piece de Ray, que poeticamente sintetiza todo esse ethos pathos de seres destinados à tragédia, é também um dos ápices dramáticos da história do cinema.
Os que convivem com esta persona, na tentativa de proteção concomitante ao medo, normalmente mente, mascara; e estes não suportam a infidelidade. Paranóicos por excelência também, explodem em violência quando inseguros assim como explodem em amor quando seguros. O poder da emoção mais sincera emana desses olhos e gestos em momentos como tais; e aí onde
o personagem explode o sentimento se desabrocha, e vislumbrasse o inflamável (aquilo que anima).
O automóvel em alta velocidade é um dos símbolos que podem expressar tal ser-sentimento. Como um furacão, acompanhamos o furor de Dixie Steele (Bogart) devastando as estradas rumo ao seu ódio. Sua mulher (Grahame) - que faíscou a dinamite com suas falsidades - teme, agora mais que nunca, o que aquele homem (provável futuro marido) pode fazer em seus acessos de raiva.
Nós, espectadores acompanhando o thriller, nos angustiamos a cada dúbio gesto de Bogart, como quando com a pedra em mãos se prepara para esmagar a cabeça de um inocente ou quando com a mão em torno de Grahame faz o gesto que encenou no relato ficcional de como poderia ter acontecido a morte da jovem pela qual é suspeito.

"I was born when she kissed me, i died when she left me, i lived a few weeks while she loved me". Ele recita na mais pura calmaria, como se enfim ele ali atingisse o olho do furacão, como se enfim ali nós pudéssemos contemplar todas as cores fortes daquele espectro turbilhonante de emoções que o formam em prisma.
Enquanto ela agora dirige de volta, ele, num gesto de amor, a envolve com o braço, completando o poema que ela, repetindo suas palavras, buscava recitar. Esse gesto, que há alguns momentos prefigurava um gesto de morte e violência, não recebe aqui apenas uma repetição para salvaguardar uma ambiguidade, ou tão-somente esclarecer uma falsa suspeita. Esse gesto é o gesto que, em ação, revela esta essência, essa emoção que nasce dessa violenta luz, dessa terna treva.

Os versos retornarão ao final, "like a farewell note", enquanto o amor se escorre como ela na parede, enquanto ele, em "the end", assim como no início, retorna ao seu locus: "in a lonely place".
Mateos.

domingo, 6 de março de 2011

Relato de uma emoção Nick Ray

[In a lonely place. Nick Ray. 50]

A arrogância é a arma mais óbvia da insegurança. Principalmente o homem, e principalmente o homem que ao se sondar descobriu-se insondável. Esta nobre característica de caráter, odiada por todos ao mesmo tempo que admirada, é frágil como só a força pode ser. Humphrey Bogart encarnou esta essência, que animou a vida dos personagens que interpretou. Sempre solitário em alguma estrada, sempre perseguido por sua sombra, sempre amante de si e das mulheres - das belas mulheres, das interessantes, das mulheres como Gloria Grahame.

Dixon Steele, provavelmente o ápice desse corpo/espírito, é também alter-ego do seu autor: Nicholas Ray. E compreendendo o espírito-Bogart, se compreende um pouco o espírito-Ray, pois vieram ambos da mesma lama, engolem ambos as mesmas lágrimas, amam e odeiam ambos as mesmas coisas.
Acompanhar pela primeira vez In a lonely place com seus movimentos silenciosos e crescendos musicais, seu sentimento nobre e vulgar da efemeridade do amor, sua mise-en-scène cuidadosamente lançada na mais honesta emoção, seu décor e seu figurino sentimentalmente escolhidos e o seu desfile dos diálogos mais genias que saem precisos das bocas dos mais impressionantes personagens é algo único e inenarrável. O prazer que Nick Ray proporciona com o seu imenso coração e sua lúcida genialidade é também exatamente o prazer do cinema, quando atinge o ápice que pode atingir.
Um dos mais belos e pessoais filmes já feitos, uma poesia sussurada pelos olhos vidrados de um trágico homem em alta velocidade rompendo a noite e a estrada. O interior é escuro e cheio de caminhos. A vida, feita de momentos, precisa ser vivida de fato.
Breton já intuia: A beleza será CONVULSIVA, ou não será.

Mateos.

sexta-feira, 4 de março de 2011

A moral é uma questão de travellings

Na América dos anos 30/40, dois estrangeiros: Frank Capra, um italiano, e Fritz Lang, um alemão.

Para Frank Capra, atrás de tudo, por mais cruel que possa parecer, se esc
onde o bem.
Para Fritz Lang, atrás de tudo, por mais bondoso que possa parecer, se esconde o mal.
Além dos roteiros, dos estúdios, dos gêneros e das estrelas, estavam os diretores, colocando sua visão de mundo nos filmes, através do cinema. Reconstruiam assim a América, e construiam suas respectivas obras.

Mateos.