terça-feira, 8 de março de 2011

AS COISAS como são (?) – se arranhando entre parágrafos

São ou estão? Foram, serão. É, as coisas, sempre as coisas... a partir da existência.
Fritz Lang em Le Mépris expõe “como se sofre”, pois para se fazer cinema apenas os sonhos não bastam.
O Rafael Couto diz que toda identidade pode ser categorizada barrocamente de forma dual, tratando/entendendo as coisas de um lado luz e um lado treva, vício e virtude, etc... Ao produtor, para a virtude do êxito existir é necessário o vício da ambição caminhando lado a lado. Assim é o ator com a vaidade, e assim é o criador com a loucura. No âmbito do
caos, no entanto, habitarão as regras, e o dual, reconheceremos primeiro que é mais que dual, para depois concluirmos que é uno. É o prisma o buraco negro.
Mas, focar focar! Limitar, é importante. O limite é o pequeno caos, notadamente aquele que comunica o grande caos, com estilo. Sim, focar, sem profundidade, nos olho
s::::::::::::::::::: close-up.

Vamos focar nessa questão da dificuldade de se fazer cinema. Sem puxar sardinha, nem choramingar de vira-lata. Só humilde reflexão... a partir da existência.
Com o que perdemos tempo? Com o que ganhamos tempo? Como aproveitamos ele, o tempo, para nossos projetos?
O que cada um pode espremer do tempo?
Queria muito a figura do produtor ao meu lado, que espremesse do tempo o dinheiro necessário para a sustentabilidade dos projetos sonhados, as agilizações das locações, as construções das possibilidades pragmáticas, as realizações dos detalhes de pré e pós, e tudo mais. Alguém que simplesmente fosse fascinado pelo seu trabalho, que fosse um gênio da lâmpada, um realizador de sonhos, um gestor de idéias, um agente catalisador, um processo físico de ressublimação.
Como se sofre quando não se consegue espremer do tempo aquilo que poderíamos espremer! Fazer afirmações categóricas dizendo que o cinema é uma arte coletiva, ou que o cinema é indústria eu acredito que são reduções. Mas já compreendo, a partir da existência vivida, que um certo cinema – e que me interessa bastante – passa por tais caminhos.
O Ser deve ser afinal esquecido um pouco para a Coisa se materializar? É preciso, para não ser navalhado pelo Processo, mergulhar-se nele enquanto Ator e esquecer um pouco as angústias da alma para interpretar-se enquanto máscara social? É preciso, para esse Sonho fulgurar não apenas detrás da retina, aprender os passos da dança política no manual da burocracia? É daí que vem o gemido de Tarkovski – que era tão mais preocupado com questões metafísicas – de que o cinema é uma arte triste de se fazer?
Escuto um amigo dizer o quanto ele está feliz escrevendo solitário o seu romance... e como ele simplesmente desistiu de fazer cinema para escrever – que é muito mais possível e prazeroso, pois sem gente e tecnologias, dinheiro e produções... Caneta, papel, criatividade, trabalho! Sim, e quando não se escolhe algo? Quando simplesmente não se pode dormir?!
É uma droga – das pesadas – o cinema! A suspensão de um REC é um pico na veia, a capturação de um fragmento mágico de realidade é o prazer adrenalínico do cleptomaníaco, o vislumbre de uma montagem se encaixando é o transe da besta humana no girar homicida da adaga, a renderização é a ejaculação fervendo do necrófilo, o primeiro play a alucinação do moribundo em seu último estertor! Não há hipótese de descrever sensações inefáveis como tais. As suposições, bem dizia Satyr, são para os tolos, a vivência é para os sábios.
É uma estrada só. Quando mais se vê cinema, melhor se enxerga a vida; quanto melhor se enxerga a vida, melhor se compreende o cinema. Quanto melhor se compreende a visão, mais se apura o olhar. E logo a mente, o sonho, o Eu, o contemplar. Se aprende vi-vendo. Se a aprende a filmar vivendo, se filma pra aprender a viver.
Plantar uma árvore, escrever um livro, ter um filho, grande merda! Realização mesmo seria colocar uma escola de samba na avenida, conjugando perfeita e inventivamente todos os quesitos de um desfile. Ou criar uma religião: converter fiéis, criar uma simbologia e rituais que perdurem gerações, inventar um conceito e um imaginário tão fortes que civilizações se destruam por ele.
Ou apenas fazer um filme à maneira do sonho pessoal, proporcionar à eternidade o efêmero construído.
Como pudermos façamos enfim, materializemos essa luz que ofusca onírica.
Transubstanciação. PRIMEIRO, e antes de tudo, e depois, depois de tudo. As coisas, é.

Mateos.

3 comentários:

  1. meu Deus...me emocionei lendo isto, mateus! até chorei por dentro...compreendo e comungo c td q escrito está ai...como eu gostaria de estar ctg e com meus amigos de belem, retomando e levando adiant projetos meus e deles, nossos...dói e aperta ainda mais meu coração por essa distancia...meu Deus, meu Deus...espero estarmos tds face a face novamente. abçs

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  2. esse trenzinho do caipira trilhando trilhando hora chega na estação Ciotat.

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  3. vem p salvador mateus...vem...tenho certeza q vc vai amar as possibilidades cinematogrficas e mágicas daki

    [tvz eu passe por belem ainda nesse final do ano, mas retorno a salvador novament].

    *sei q esse trenzinho do caipira está trilhando trilhando e na hora certa chega na estação Ciotat*.

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