0.
Sinto as reminiscências em meu Imaginário se comportarem como pólvora. Os disparos vem em forma de
imagens (ou fatos?). Disparos talvez feio festim: divertidos e perigosos, luminosos. São fogos de artífices,
fogos-fátuos. O oratório está aberto:
1.
O homem e a câmera só podem ocupar um espaço (no tempo). A
gravação disso na eternidade é transformar em linguagem o fragmento do mundo
exterior visível e auditivo. É o milagre da transubstanciação. É alquimia na
senda do realismo. É quando olhamos para o símbolo e para o fluxo e ambos fazem
parte da mesma matéria-espelho, onde encaramos nossos olhos e o fundo.
O que sobra quando abandonamos todos os ornamentos é a mera
sintaxe de justapor imagens e sons, e a mera aventura de fixar num suporte a
realidade que certo limite de luz faz a câmera e o humano ver e certo limite de
hertz que faz o gravador e o humano ouvir... Então: o que gravar (e como) neste
tempo que se derrama? - é a única inescapável questão durante o ato de filmar
(estética por excelência: pois é sobre como sinto/e traduzo o mundo do
seu/meu/nosso âmago).
2.
Não to falando de estética da fome, do sonho, do lixo, to
falando de “estética da família”, ela engoliu tudo isso, e a Mídia, a Ciência,
a Política, a Natureza. Essa Família vive na “qualquer casa”. Ela linka,
sampleia, antropofagiza, vomita, mata, ama. O gênero é “fique são”, é uma
loucura lúcida do rizoma chamado liberdade. Toma a ilusão por clareza, a
clareza por ilusão > encruzilha > gira ~ é a Roda da Esperança, a palheta
estelar da Fé.
3.
A proposta de pensar a afirmação da negação da hegemonia do
convencionado Cinema, como essa própria frase explicita, não é negação, mas uma
afirmação, assertiva e calma, ousada. A Familia não nega nada, apenas assume a
posição de negadora, da que não precisa de nada. Logicamente não deixa de
deglutir tudo que não precisa, é canibal e glutona por excelência. Quanto à
religião: Não, a Família não cultua Entidades, ela cultiva! : encontra a
semente, planta, rega, colhe. No instinto do religare, entre outras práticas, se encontram o culto das imagens e a sacralização do ritual, arcanos maiores
do fazer cinematográfico. Cinema, Religião e Família é um dos triângulos que
regem a geometria cósmica da Eternidade.
4.
Só existirá um jeito do agora de revolucionar. E não será
matando a família (de novo) e indo ao (novo) cinema, mas matando o matou o
cinema e foi a família assim como o matou o cinema e foi a família matou o
matou a família e foi ao cinema. É preciso matar sempre, criativamente. Matar é
a extremidade do passo além, da mudança que deve acontecer; e sempre uma volta
ao lar, um retorno ao ser.
É preciso sempre voltar a Família, para matá-la.
*fragmentos de notas que não entraram na edição final que fiz do texto "Manifesto-me hà Familia", publicado recentemente na Revista Gotaz (http://gotaz.com.br/)
*fragmentos de notas que não entraram na edição final que fiz do texto "Manifesto-me hà Familia", publicado recentemente na Revista Gotaz (http://gotaz.com.br/)
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