É preciso esclarecer. A crítica também é necessária. Sobre Belém, sobre o cinema em Belém – de novo. Primeiro, sobre o circuito comercial de cinema, e no âmbito uma reflexão sobre a minha geração, e o que vier disso. Brainstorm. É preciso esclarecer, façamos juntos – agradeço quem ajudar.
Sou de uma geração de cinéfilos que não freqüenta demasiado o cinema. Parece absurdo colocar na mesma frase que se é cinéfilo e que não freqüente muito o cinema, mas esclareço: A minha é a geração da internet, da democratização total da cultura universal, da posse a um clique, do auto-didatismo, do cineclubismo. Me sinto muito feliz por fazer parte dessa geração: a dos baixadores e compartilhadores. Todos os dias álbuns, filmes, livros, quadrinhos e fotos são baixados e vão sendo armazenados nos DVDs e HDs que coleciono; os compartilho, sempre e com todos. Ir ao cinema, só se for pra ver Cinema, tem muita coisa na fila em casa para assistir. Não me interessa pagar R$ 8,00 para ir no Moviecom ver um filme insipiente e ainda sentir raiva devido a qualidade patética da exibição - aliás como uma rede de cinemas não contrata engenheiros que tenham noção alguma de estrutura e projecionistas que não sabem equalizar o som ou enquadrar a imagem eu nunca vou compreender. Corroborar com uma rede de cinemas que não prioriza nem a qualidade da exibição dos filmes é dormir num ninho de cobras, não falar sobre isso, é indulgência preguiçosa e letargia crítica (isso é uma auto-crítica tardia).
Sou, também, de uma geração de cinéfilos que não freqüenta demasiado a locadora. Obviamente pelo preço. Na Fox Vídeo, locadora que tem o melhor acervo da cidade, a locação – de catálogo – é R$ 5,50; comprando-se um DVD por R$ 1,00 e gravando os arquivos em formato .avi, dá pra se ter, por R$ 5,00, “pra sempre”, uma média de 25 filmes.
No fim o melhor mesmo é ficar em casa, baixando e vendo, emprestando e compartilhando. Locar apenas quando sai uma edição especial de algum grande filme, cinema apenas quando entra alguma obra que diga algo cinematograficamente. Acredito, sobretudo, que nada substitui o ritual da sala escura, e, mesmo com a ultrajante exibição do moviecom, ainda vale a pena ver Cinema, toda vez que possível.
A questão da exibição em Belém, aliás, é preocupante, não apenas nos circuitos de exibição comercial, mas até nos cineclubes (onde se presume que existem amantes pra caralho de cinema). Não to querendo puxar o tapete de ninguém, só a orelha. As exibições que são feitas no Olympia e no IAP são vergonhosas. Os técnicos no Olympia não se preocupam com o enquadramento e jogam o filme de qualquer jeito. Fui assistir “Aconteceu naquela noite” lá e assisti o filme em trapézio, e não em quadrado como deveria ser. No IAP a imagem vaza e se perde quase 20% da imagem, a história mais interessante que eu tenho sobre esse fato foi quando Vicente Cecim foi me mostrar os novos filmes dele lá e simplesmente sua experimentação foi gorada pelo defeito tecnológico. Ele acabou me narrando que sua intenção no filme era fazer a ação toda ocorrer naquele canto do quadro que não podíamos enxergar por causa do vazamento da imagem. Não to querendo puxar o tapete de ninguém, só a orelha. O filme merece respeito.
Outra ferramenta da minha geração é o Microsoft Word (onde escrevi este artigo). Ele faz o papel, entre outras coisas, de corretor ortográfico. Neste texto ele não reconheceu as palavras em português “cineclubismo”, “cineclube”, “projecionista”, “baixadores” e “compartilhadores”. Cada geração de professores tem suas vontades, suas realizações. A da minha é a de que estas palavras sejam conhecidas por todos na próxima geração, assim como queremos que ator, atriz, oscar, fotografia sejam tão facilmente compreendidas quanto enquadramento, mise-en-scène, decupagem e movimento de câmera.
Pretendo escrever sobre Ilha do Medo e Scorsese no próximo texto.
Mateus Moura.
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