domingo, 6 de março de 2011

Relato de uma emoção Nick Ray

[In a lonely place. Nick Ray. 50]

A arrogância é a arma mais óbvia da insegurança. Principalmente o homem, e principalmente o homem que ao se sondar descobriu-se insondável. Esta nobre característica de caráter, odiada por todos ao mesmo tempo que admirada, é frágil como só a força pode ser. Humphrey Bogart encarnou esta essência, que animou a vida dos personagens que interpretou. Sempre solitário em alguma estrada, sempre perseguido por sua sombra, sempre amante de si e das mulheres - das belas mulheres, das interessantes, das mulheres como Gloria Grahame.

Dixon Steele, provavelmente o ápice desse corpo/espírito, é também alter-ego do seu autor: Nicholas Ray. E compreendendo o espírito-Bogart, se compreende um pouco o espírito-Ray, pois vieram ambos da mesma lama, engolem ambos as mesmas lágrimas, amam e odeiam ambos as mesmas coisas.
Acompanhar pela primeira vez In a lonely place com seus movimentos silenciosos e crescendos musicais, seu sentimento nobre e vulgar da efemeridade do amor, sua mise-en-scène cuidadosamente lançada na mais honesta emoção, seu décor e seu figurino sentimentalmente escolhidos e o seu desfile dos diálogos mais genias que saem precisos das bocas dos mais impressionantes personagens é algo único e inenarrável. O prazer que Nick Ray proporciona com o seu imenso coração e sua lúcida genialidade é também exatamente o prazer do cinema, quando atinge o ápice que pode atingir.
Um dos mais belos e pessoais filmes já feitos, uma poesia sussurada pelos olhos vidrados de um trágico homem em alta velocidade rompendo a noite e a estrada. O interior é escuro e cheio de caminhos. A vida, feita de momentos, precisa ser vivida de fato.
Breton já intuia: A beleza será CONVULSIVA, ou não será.

Mateos.

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