Qual melhor metáfora para exprimir o non-sense da Vida senão
uma eterna preparação para o grande espetáculo: a Morte?
Qual melhor metáfora para expressar a essência do Teatro
senão a de um espetáculo que inicia antes do ensaio geral (que já é um ensaio
geral, e que sempre será um ensaio geral, porque teatro não se finaliza jamais,
ele só começa e termina no é)?
Pro ensaio geral ensaiamos sempre, é a metáfora perfeita da
luta do improviso contra o destino, da busca da imortalidade na arte contra o
tempo que carrega nossos corpos.
Não existe coisa mais séria do que um conto de fadas. Este,
grotesco maravilhoso, sublime encantador, revelador alegórico, não propriamente
‘fala’ sobre o ‘Rito de Passagem’, antes 'mostra' – ouve-se nos intervalos
silenciosos. Ação e Contemplação. Estamos, enquanto público e espécie humana, durante quase 1 hora,
envolvidos pelo manto da Morte – nosso maior véu. Fera e atmosfera.
O ritual proposto é uma última dança: de olhares, de gestos,
de lembranças, de humores, de maus resolvidos assuntos, de inerentes afetos, de
conflito/harmonia/movimento entre a Mãe e o Monstro, ou entre a Prole e o
Dragão. É um show da dupla Mauricio-Sandra (que também assinam a dramaturgia).
Pro ‘teatro de fanzine’! – termo que ouvi da própria Sandra
Perlin. A exuberância reciclada e a força expressiva do figurino e da
cenografia de Mauricio Franco e da iluminação de Malu Rabelo é um bálsamo para
o olhar, uma lição para os ouvidos. A direção é de Vandiléia Foro: corpo,
ritmo, mise-en-scène, num cubículo intimista, numa ladeira frenética, rumo ao fim.
Durval, esse misterioso personagem que ilumina as emoções,
desliga as luzes, e já podemos aplaudir de pé.
A peça acaba num sábado qualquer e vamos sentar na frente de
nossas casas, papear sobre arte e vida, e morte. Inspirados por esse balde de
suor e lágrimas traduzido em comédia humana, respiramos gratos por tanta
verdade e encantamento. Se esses não são momentos históricos não sei o que pode
ser.
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