terça-feira, 18 de setembro de 2012

MANIFESTO-ME hÀ FAMILIA (no rastro do que sobrou)


0.
Sinto as reminiscências em meu Imaginário se comportarem como pólvora. Os disparos vem em forma de imagens (ou fatos?). Disparos talvez feio festim: divertidos e perigosos, luminosos. São fogos de artífices, fogos-fátuos. O oratório está aberto: 

1.
O homem e a câmera só podem ocupar um espaço (no tempo). A gravação disso na eternidade é transformar em linguagem o fragmento do mundo exterior visível e auditivo. É o milagre da transubstanciação. É alquimia na senda do realismo. É quando olhamos para o símbolo e para o fluxo e ambos fazem parte da mesma matéria-espelho, onde encaramos nossos olhos e o fundo.
O que sobra quando abandonamos todos os ornamentos é a mera sintaxe de justapor imagens e sons, e a mera aventura de fixar num suporte a realidade que certo limite de luz faz a câmera e o humano ver e certo limite de hertz que faz o gravador e o humano ouvir... Então: o que gravar (e como) neste tempo que se derrama? - é a única inescapável questão durante o ato de filmar (estética por excelência: pois é sobre como sinto/e traduzo o mundo do seu/meu/nosso âmago). 

2.
Não to falando de estética da fome, do sonho, do lixo, to falando de “estética da família”, ela engoliu tudo isso, e a Mídia, a Ciência, a Política, a Natureza. Essa Família vive na “qualquer casa”. Ela linka, sampleia, antropofagiza, vomita, mata, ama. O gênero é “fique são”, é uma loucura lúcida do rizoma chamado liberdade. Toma a ilusão por clareza, a clareza por ilusão > encruzilha > gira ~ é a Roda da Esperança, a palheta estelar da Fé.

3.
A proposta de pensar a afirmação da negação da hegemonia do convencionado Cinema, como essa própria frase explicita, não é negação, mas uma afirmação, assertiva e calma, ousada. A Familia não nega nada, apenas assume a posição de negadora, da que não precisa de nada. Logicamente não deixa de deglutir tudo que não precisa, é canibal e glutona por excelência. Quanto à religião: Não, a Família não cultua Entidades, ela cultiva! : encontra a semente, planta, rega, colhe. No instinto do religare, entre outras práticas, se encontram o culto das imagens e a sacralização do ritual, arcanos maiores do fazer cinematográfico. Cinema, Religião e Família é um dos triângulos que regem a geometria cósmica da Eternidade.

4.
Só existirá um jeito do agora de revolucionar. E não será matando a família (de novo) e indo ao (novo) cinema, mas matando o matou o cinema e foi a família assim como o matou o cinema e foi a família matou o matou a família e foi ao cinema. É preciso matar sempre, criativamente. Matar é a extremidade do passo além, da mudança que deve acontecer; e sempre uma volta ao lar, um retorno ao ser.
É preciso sempre voltar a Família, para matá-la.

*fragmentos de notas que não entraram na edição final que fiz do texto "Manifesto-me hà Familia", publicado recentemente na Revista Gotaz (http://gotaz.com.br/)

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