Acredito que Mann faz o filme de gângster apenas com as regras de gênero que lhe interessam, acrescentando, naturalmente, o tom que permeia sua obra. Creio que o maniqueísmo está longe... Melvin Purvis não é apenas o bandido que quer pegar Dillinger (não é apenas um estereótipo), a cena do diálogo entre as grades com Dillinger revela que ele não deu certo na sua escolha profissional (o que é retificado na cena em que mata inocentes e sente fundo, e no epílogo do filme quando sabemos que ele abandonou a polícia e se suicidou mais tarde), e a cena em que carrega Frechette nos braços não revela nada (longe as explicações), mas perturba. Outra questão é o duelo final entre Dillinger e Purvis gorado, a redefinição do rival e do duelo. Dois duelos acontecem entre Dillinger e homens que nem conhece, um ele vence com o olhar, que o apavora (e este sentimento só o espectador pode completar, pois sabemos o quanto o "fat boy" merece uma surra do Dillinger, mesmo sem ele saber), e o outro é seu assassino: Winstead, o homem do Oeste – Texas ranger – que tem os culhões que Dillinger diz para Purvis – entre as grades – que o policial não tem. Talvez nem Dillinger tenha o que é preciso para um herói do Oeste, Dillinger já é um herói hard-boiled, um herói que se apaixona; e que Purvis sabe de antemão – ao ler o velho diálogo no script - que voltará por amor. Dillinger e Frechette me fazem lembrar Jesse e Tulip, assim como Winstead me faz lembrar o Santo dos Assassinos.
O final é o encontro - no mundo dos policiais científicos e dos ladrões populares - de um ranger e uma índia. Onde Dillinger e Purvis? Afinal, é um filme de bandido e mocinho? Só?
Mateus Moura.
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