sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Testemunho sobre a Mostra Novo Cinema Paraense

Não existe “cinema paraense”, mas cineastas que residem no Pará, e fazem cinema.

“Chega de igreja!”, bradou Priscila Brasil. Marcelo Marat concordou.

Vivenciei nesses últimos 3 dias o que denominei de “a maior fagulha de clareza coletiva de cineclubismo desse ano”. Da polêmica que antecedeu o evento sobrou apenas a batalha saudável de idéias. Foi quem queria realmente contribuir para a discussão. Natural e harmoniosamente, conclusões coletivas restaram lado a lado às discordâncias individuais. O que prevaleceu não foi nem a discussão sobre o “novo”, nem sobre o “paraense”, mas sobre o CINEMA.

“Não existe o cinema paraense”, disparou Nilson Bala. E nessa hora senti uma pontada na nuca, me lamentando termos perdido nome tão interessante para a Mostra. Entretanto, o nosso título não perdeu a realeza de seu significado profundo: o “Novo Cinema Paraense” seria sobre os últimos filmes aqui produzidos, mas, sobretudo, sobre uma nova consciência acerca desse tal cinema, construída através da discussão. Enquanto o filme trabalha o inconsciente coletivo, o cineclube trabalha com o consciente coletivo. É o apagar e o acender das luzes. O “Novo Cinema Paraense”, logo, não se configura numa tentativa de rotulação, mas de provocação.

“Espaço democrático horizontal expressivo intelectual”, nunca esses pleonasmos todos fizeram tanto sentido. Todos estavam à vontade: espectador, cineasta, crítico, produtor, ator, cineclubista, claquetista, filme. Ao invés da busca de uma identidade regional forçada e demagógica, tudo foi espontaneamente analisado através da sede de conhecer profundamente os objetos. Concluímos que é inegável a excelência cine-criativa de Marcelo Marat, Priscila Brasil, Márcio Barradas... A crítica – decidiu-se – deve ser sempre construtiva. O artista – vislumbrou-se – sempre livre.

O artista é o que não tem medo de errar. Se errar é humano e perdoar é divino, que Deus nos perdoe por sermos errantes. “Viver é perigoso, e é preciso ter coragem”, disse Rosa. Encarar a frio e sem desassossegos grandes as coisas todas que balbuciamos sobre é a grande sabedoria dos diálogos à luz da razão. Não é nada demais a arte, a crítica, a contemplação estética, a denúncia social; não é nada mais do que só tudo isso. O que aprendo no contato com o outro é essa troca, esse quinhão de conhecimento solidário.

Logicamente, esse não é um texto definitivo sobre o que aconteceu nos dias 4, 5 e 6 de agosto de 2010 no auditório do IPHAN. Menos ainda o texto oficial da avaliação do INOVACINE sobre a Mostra.

Não é nada mais que um testemunho pessoal.

Mateus Moura.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. dar a oportunidade das pessoas se reunirem onde quer que seja para falar daquilo que acreditam ou desacreditam, das falas ecoarem ao "público" e do público para os realizadores, críticos e admiradores sem nenhuma pretensão que não seja a de compartilhar a paixão e como ver e entende essa arte tão estonteante, arte que veio sendo colocada por alguns em uma roupa para cada lugar, como se ela precisasse de um identidade local.
    o que eu vi ali, naquele dia 4 foi uma sala cheio de pessoas interessadas em ouvir as experiências daqueles que ousaram se comunicar, se expressar através de um olhar cinematográfico. seja ele um olhar mais imaginativo,poético, seja ele mais documental e recortado em questões sociais. o importante (e que foi muito bem recebido por todos) é essa troca de como o processo significou para quem realizou, e tudo isso sendo visto com as possibilidades criativas existentes nessa arte das imagens e da luz, da cena e da interpretação natural do ambiente, dos personagens dirigidos pela técnica ou pela intuição (e sempre pelos dois).
    em certo momento do diálogo que foi ficando mais leve n medida em que os realizadores e o critico passaram a conversar livremente sobre temas que se relacionavam direta e indiretamente com aquele cinema ali expressado, pois se o cinema é universal, isso deu espaço para ambos os realizadores dizerem de suas impressões criativas e mergulharem em uma poça de sentimentos, uma fala livre, sem pudores, que encontra apenas um delírio consciente que aporta em nossa espirito, nos fazendo fazer algo que esvazie essa sensação.

    Samir

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