[Death Proof. Quentin Tarantino. 2007]
Escopofilia!
E, subsumido, voyeurismo, fetichismo, podolatria, alcoolatria, necrofilia artística, narcisismo, cinefilia... definitivamente Quentin Tarantino é um dos nossos, um homem do nosso tempo; e sua obra, curta e grandiosa, ecoa, definitivamente, o espírito do mesmo; esta, Death Proof, em alta velocidade e embalada pelo som de Dave Dee, Dosy, Beaky, Mick and Titch, é mais um grandioso elogio que o (já) mestre faz à sétima arte. O projeto é o lançamento de um artista contra o seu destino (representado por uma estrada onde o horizonte não se enxerga), e o encontro (logicamente, na documentação da própria estrada) de um tesouro inflamável (senhoras e senhores, novamente: o Audiovisual).
O problema de toda a maioria da população cineasta do mundo é a existência de Quentin Tarantino, espécie de monstro do gênero slasher que caminha com postura de imortal rumo a eternidade. Impossível ser indulgente com o que for depois de reexperimentar o zênite do que uma ferramenta pode fazer. Crítico não “sabe” nada, ele é só mais um (contudo o mais apaixonado) que gosta de falar o que o cinema é vez ou outra, só pelo prazer de extravasar a importância de certas obras para a linguagem que mais lhe toca. Lhes afirmo, com toda propriedade que a minha consciência permite atingir, que o cinema é uma xoxota em shortinho apertada em travelling rumo a privada, é Zoe Bell sorrindo de cano em riste galopando no Dodge Challenger branco 1970 440 HP rumo à caça do monstro “engraçadinho”, é o lento slow no rosto de Abernathy quando seu desespero se metamorfoseia em euforia, é a eterna aparição de cada personagem como se fosse o seu plano de apresentação, é o poder do preto e branco como silêncio para a explosão sonora das cores num BIG RED depois de um big yellow de carro e saia em composição de traseiras, é o momento sagrado que precede a morte (onde 4 maravilhosas amigas na catarse hangout desencarnam no gozo mórbido de um apaixonado inconseqüente pelas personagens das ficções que ele nunca queria sair), é o plano-sequência-tarantino-ápice do “papo furado” na mesa de bar, é uma taberna virar a-histórica, atingindo a mitologia dos espaços entre uma torrencial chuva embalada em jukebox e mensagens de celular contraponteadas por olhares embriagados, são as relações/tensões sexuais dos corpos em coreografias de amor ao movimento_com a câmera, captando/estando entre a dança dos gestos e a dança das palavras.
Um filme sobre 9 mulheres: uma “famosa” DJ negra cool gostosa, uma virgem morena “butterfly” gostosa, uma menina loirinha de boa gostosa, uma madura que traz maconha maneira gostosa, uma outra loirinha não tão de boa gostosa, uma atrizinha loirinha gatinha gostosa, uma maquiadora simpática cú doce gostosa, uma dublê nigga baddass gostosa, e a maior das dublês crazy motherfucker Zoe Bell the cat como ela mesma gostosa. Todas ELAS objetos de olhar, de olhar machista-feminista, todas ELAS seres de desejo, amantes da ação. Filme sobre 1 peeping tom apaixonado pelos obscuros objetos de desejo, monstro-sombra do gênero slasher, homem patético choramingando e de the end com cara amassada pela bota-fetiche. Um filme sobre 2 carros – caubói o caralho, eu sou dublê! O cinema não é apenas o andar de John Wayne, mas, sobretudo, os saltos de Yakima Kanuti! Shane e seu cavalinho que dêem licença, que Kowalski tem urgência em morrer!
O que o cinema é o que o cinema é?? “In one word: emotion”, é a síntese fulleriana para o que o cinema deve encontrar contando sua estórias. O cinema captando o movimento da emoção, o que anima a alma; o espectador não decodificando nada antes de ser fisicamente invadido pelas virgens imagens. Mise-en-scène, Sr. Tarantino, é, sem dúvida, questão de imagens poderosas e não de idéias – imagens estas que ganham centelha de vida entre um “ação” e um “corta”. A quebração de mundo é evidenciar que nem o mais alto diálogo em contexto de guerra pode ser maior que os babados sexuais de garotas em ritmo de filme slasher. Acredito agora que a maior metáfora para se explicar o que é – enquanto sentimento estético - a mise-en-scène é a afirmação categórica de que A MISE-EN-SCÈNE É UM LAP DANCE – um sexo espiritual através do estímulo audiovisual a partir da beleza significante da coreografia dos movimentos.
Não existe amor não existe amor, apenas provas de amor!! Obra única, este Death Proof é sem dúvidas à prova de morte, a prova da vida, a evidência do cinema. Se resta alguma pulga atrás das orelhas e olhos de alguém ao sair de tal experiência cinematográfica, faz-se mister, urgentissimamente, a dedetização; pois, se é preciso renascer para gozar a vida, que se enfrente de frente o maior dos desafios; como um dublê, como os verdadeiros machos da História.
Mateus Moura.
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
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Para uma obra-prima de imagens em movimento, uma obra-prima de palavras com EMOÇÃO.
ResponderExcluirQUERO É COME O CÚZINHO DELA, PO ELA DE 4 E METER MINHA PICONA DE 23 CM NESTE CÚZINHO DELICIOSO !
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