segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Sobre a Arte (ou qualquer outra coisa que se pesque através de aforismos em montagem de atrações)

“Isso aqui não é poesia, mas profecia vivida” (Luís Alberto)

Orson Welles – que com o seu Cidadão Kane influenciou todos os grandes cineastas vindouros, e que com os filmes depois do primogênito influenciará ainda todos os grandes cineastas vindouros – dizia, no tom mais simples, que o artista é, tão-somente, aquele que expressa em uma obra a essência de sua personalidade.

A matéria-prima do artista é o não-era. A obra não diz nada, ela é. A essência do ser fede e perfuma, é o feromônio e a nhaca, o feio e o belo: a coisa.

Rafael Couto, durante um ensaioght em jam verbal comigo, trouxe o conceito do artista-decorador. Aquele que decora decora decora, e repete. Decora o pavão. Pavoneia.

Quem “faria” não é artista. O artista faz. E depois, não é tudo uma questão de ser ou não ser, mas uma questão de é. Uma questão de FAZER.

O novo – porém não se iludam – é o antigo criado. O novo é o n que renasce no ovo. N formas. Nascer – sim! – todos nascem; renascer – porém não se iludam – não é obra do divino, mas da vontade – demasiada humana. Sair do trem para o trilho, do horizonte para a estrada, da vida para o viver.

Só o profeta enxerga o óbvio, dizia Nelson Rodrigues. A inspiração – como não percebemos? – é apenas o movimento respiratório de sucção de tudo aquilo que a galera joga no ar. Resta, com humildignidade, expirar com os próprios pulmões. Porque – não nos esqueçamos! – quem com a pica dos outros goza, concebe apenas bastardos.

Porque a demagogia é a pior mentira que existe, porque a demagogia é uma mentira mentirosa, bradava Tim Maia, do alto de sua vagabundagem. A arte – ele bem sabia, de forma racional superior – pode transmitir verdade até na pior das mentiras. Basta a fé na essência, o tesão pelo instrumento de invocação e a entrega total no ritual. Com tal receita atinge-se, além do Bem e do Mal, do Belo e do Feio, da Verdade e da Mentira: o Inominável – aquilo que até podemos falar por alusões, mas que em si apenas é.

“Esqueçamos pois o incômodo dos calos. Falos eretos, adentremos; que a sina, o sino anunciam: é hora da abolição do tempo, da criação, do nascimento”: Palavra de Denotan. Graças há Deus.

Mateos.

8 comentários:

  1. Cara isso tudo issso em sua totalidade, foi por causa do teu aniversário? E que não me dissestes até agora se recebestes as minhas mensagens.
    Mas como sei que me amas e sabes que eu te amo, só tenho a dizer que o gole profundo não engasga,só dá prazer, porém, é só pra quem sabe.

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  2. como não recebi as mensagens? tu acha q esse texto é fruto de q? =)

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  3. Li ouvindo Milton nascimento e wayner shorter tocando a maravilhosa ponta de areia... É meu amigo, somos nada diante daquela catedral e conseguimos ser preenchidos e nos transformar em tudo.
    Muito obrigada por tudo isso.
    Fiquei maravilhada.

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  4. Concordo, artista é o que faz por isso acredito no milagre de uma linha de baixo bem trabalhada.

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  5. eu só me extasio diante... adiante... avante!
    vc sentou no pé e arrastou seu rosto do chão para ter certeza de que não sentia dor mateus (mas sente)...para conhecer a tinta vermelha da sua pele, começar a pintar a tua memorável história que ascende e apaga como um vagalume tenebroso.
    mas teus sonhos e disposição fazem um caldeirão de magia emergir e irradia para tantos lados que nem se precisa saber onde se quer chegar com tudo isso, apenas se segue a luz e ela se apresenta em vários lugares e formas, e mesmo quando esta na escuridão é substancial e essencialmente capaz de libertar, porque é assim que surgiu..., de uma caverna sem poltrona, e todo o resto é só um detalhe, e seu escrito é esse grão de sentimentos que na sua pequenas magica alimenta tantas bocas, almas...
    é por isso que a arte deve e pode ser vista como um espirito! porque quando estamos nela e com ela o salão ganha a presença de tudo que não conhecemos, desconhecemos dentro de um fio que estremesse uma relação acordada pela madrugada de um acorde de violão que vem nascendo dos vagalumes, sonhos e grãos de ventania, da casa eternamente em construção, de tudo que aprendestes com teus pais, amigos, com os moradores da rua que somos, sem teto, aqueles que te ajudaram a entender que o céu é só uma pintura que serve para você contemplar no final da tarde...(será?)
    te admiro sincera e profundamente, e nesse mar de gente em que caminhamos vamos segurando as mãos daqueles que passam a fazer parte de nossas vidas eternamente, pois os pensamentos e lembranças fraternas de tudo que é o ser e o não ser da magia da amizade, nos trazem a certeza de que viver é uma ação divina, acreditando ou não em Deus, existindo ou não na dimensão de si próprio.
    Seu escrito me causou enorme magia e libertação, grato mateus.

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  6. Minha resposta a teu texto: um sorriso grato e cúmplice.

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