quarta-feira, 27 de abril de 2011

Inelutável ficção

King Hu é um dos maiores amantes da "realidade da ficção" em prol do "realismo ficcional". Chamar de "artificialismo" este nobre caráter de estilo talvez seja pouco para conceituar o que constitui a grande lição desse mestre chinês. Chamemos de "cinema auto-consciente", cinema que se coloca enquanto cinema, que se mostra opaco, que se apresenta livre em sua litúrgica coreografia.

Não interessa para este cineasta, às vezes, a continuidade clássica, a montagem invisível, os "vrai raccords". Cada dardo arremessado, cada espada empunhada, cada golpe desferido, cada olhar de amor de submissão ou de medo, cada gesto marcado na geografia de cada espaço, cada ato captado respeita apenas uma regra: a beleza do movimento inventado. Beleza que se apresenta grandiosa na duração do plano, e ainda mais na justaposição com o próximo. O que Hu opera é um verdadeiro balé de imagens sobrepostas. O cinema em ação. O cinema são de sua natureza. O cinema vivo em sua evidência (de mostrar realidades, e de criar universos). Filho direto da Ópera de Pequim, ama o espetáculo, que revela toda a humanidade chinesa.

A estalagem - como o "sallon" no western - é o microcosmo desta sociedade. Hu esquadrinha as classes sociais (que ali se encontram e se defrontam) e a geografia desse espaço, onde olhares são comungados, provas de artes marciais exibidos e homens friamente assassinados.

Entre eunucos e guerreiros porém é a guerreira a personagem mais característica de Hu. Personagem imageticamente imortalizada pela bela Cheng Pei Pei. Ela se veste como homem, é honrada, forte, firme, inteligente, ágil e linda.

No bairrismo cinefílico há os que amam mais o Hu e os que amam mais o Cheh. É como Hawks e Ford na América. Não me peça pra me posicionar...
Hong Kong, inelutavelmente, produz gênios. Aos guerreiros é sempre importante enfrentá-la.
Lá mora o cinema - esse campo de batalha.

Mateos.

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