Artisticamente o filme é nota 6. Idéias audiovisuais interessantes, rigor estilístico quase surpreendente para um estreante, respeito honesto por um universo banalizado, noção de tempo/espaço cinematográficos.
Não deixe a matemática te enganar, a nota 6 vale muito mais que a nota 10. Há quem acredite que fazer cinema é juntar os melhores técnicos, as atrizes mais gatinhas e enquadrá-los no bom e velho “tema contemporâneo”. Podem fazer o que chamam de um “bom filme”, mas do cinema a maioria ta longe...
Esmir Filho, diretor de Os famosos e os duendes da morte, está próximo. O filme tem tudo que caracteriza justamente o contrário, mas é aí que mora o diretor – ultrapassa os perfumes técnicos, os belos rostos em si e os grandes temas atuais. Ultrapassar não é negar, mas abraçar e avançar. Chegar no cinema.
Não botava fé que o Esmir era um cineasta. Fui assistir a algum o tempo o famoso Tapa na pantera no youtube, e não me interessou mais que outros vídeos da internet.
Não tenho uma proximidade de universo com o filme, a atmosfera emo-folk evocada não me fisga como fisgou vários adolescentes pelo Brasil (apesar de ser já um fã da música de Nelo Johann). Enfim, não falo do filme com amor; não é o caso. Enxergo então de fora o universo, e analiso que temos alguém pensando imagens, planos, movimentos sinestésicos de câmera, mundo sonoro.
São nas sensoriais imagens emaconhadas na conversa dos garotos, no segurar dos planos íntimos em sequências como a do vinho com a mãe, na eficiente e nada banal utilização das imagens digitais e mídias virtuais que Esmir me fisga a atenção.
Vai se tornar publicamente, mas em essência não é apenas um “filme cult”, tal qual, às vezes alguns, delimitam Gus Van Sant.
Na cidade interiorana sulista onde os pais morrem mais cedo, o universo interior de um adolescente é desnudado em cenas livres, que atingem o seu ápice no necrófilo e libertário ménage a trois bissexual platônico. A ponte, símbolo de morte no decorrer do filme, ao fim, ganha o contorno de renascimento. O realismo ao lado do simbolismo.
Um filme para as mães, disse minha mãe. Um filme para os filhos, disse meu irmão.
Um filme para ser visto com cuidado.
Mateus Moura
Gostei da observação.
ResponderExcluirCara, emo-folk? Não foi muito feliz essa definição.
ResponderExcluirCurti o comentário, muito válido.
ResponderExcluirSou muito fã do Livro/Filme.
Mesmo sendo muito tempo depois da postagem, acho interessante agradecer pela resenha.