"Marabá é uma cidade perigosa", foi a frase que mais ouvi antes de viajar.
Sim, Marabá com certeza é uma cidade perigosa, tal qual Belém. Mas a violência e a arma que pude presenciar por lá - e de que pouco se fala - é representado pelo binário: comprometimento ideológico forte + câmera/gravador em punho.
Historicamente registrando os testemunhos da injustiça sanguinária promovida pelos grandes proprietários de terra o cinema de Evandro Medeiros e sua equipe produz material pedagógico importantíssimo para figurar no currículo escolar regional. Séries de filmes tratam com objetividade e propriedade a tensa situação histórica da região, muito pouco (re)conhecida pelo cidadão paraense (afinal Belém e Marabá são do mesmo Estado!).
O cineclube como espaço de discussão democrática pôde, na noite do dia 27 de maio (quinta-feira), fazer um debate de mais de 2 horas acerca de tais problemas. Como local que agrega o sonho e a realidade em seu bojo, o enredo e a história em sua pauta, a luta social e o fantástico abstrato em sua tela, o cineclube é hoje o espaço da liberdade de expressão por excelência. Concordemos, nada escapa ao cinema.
A programação, realizada no GAM (Galpão de Artes de Marabá), encantou e estranhou públicos de todas as etnias e culturas. Parafraseando os depoimentos: houve quem se expandiu espiritualmente com a loucura lúcida de Glauber Rocha, quem foi marcado para sempre com a sensibilidade sutil de Kenji Mizoguchi, quem descobriu o que é cinema com Sergei Eisenstein e quem dialogou historicamente o gangsterismo americano dos anos 30 com o de sua terra e se assustou com a realidade digital de Michael Mann. Concordemos, nada escapa ao cinema!
No dia 28 de maio (sexta-feira) foi realizada a terceira vídeo-conferência do INOVACINE, proporcionada pelo audacioso NAVEGAPARÁ. Para quem acompanha o projeto é interessante assistir a evolução dos passos. Enquanto na primeira vídeo-conferência falávamos da nossa paixão pelo cinema e na crença educacional revolucionária do cineclube, na terceira já avaliamos a adesão de parte do Pará a tais idéias e a união dos crentes numa próxima Jornada Paraense de Cineclubes e numa futura Federação Paraense de Cineclubes.
Me sinto honrado por fazer parte deste projeto e ter a possibilidade de entrar em contato com pessoas tão interessantes e interessadas no interior. Ulterior é a vontade de unir cada vez mais, conhecer cada vez mais, expandir cada vez mais.
O cinema é a vela, o cineclube a caravela, nós passageiros, encantados pela possibilidade e pelo alcance das viagens. Mas diferente do que pode parecer, a intenção não é colonizar, mas antes se despir, e através da violência do amor, comungar o que é de todos e de ninguém.
Mateus Moura (30/05/10).
Isso é educação cara: compartilhar, divergir, construir e respeitar. E tudo isso transformado os lugares por onde vocês tem passado assim como os lugares vão transformando vocês, e isso é interação e humanidade.
ResponderExcluirE isso é beleza que, como tu disse, não escapa nunca ao cinema.
Muito bom e pertinente o teu texto, da amazônia paraense já conheces a selva das suas cidades, falta entrares e te encantares com a floresta.
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