quarta-feira, 13 de outubro de 2010

There’s no place like home

[Tudo pode dar certo (Whatever Works). 2010. Woody Allen]


Saúdo o novo filme de Woody Allen como saudei pegar um ônibus dias atrás da minha casa para a universidade federal do pará.
Meu amigo Felipe, entre um assunto e outro, dia desses, soltou a tese dele do que seria o “complexo de Dorothy”, e que senti na pele na minha recente mateusséia que fiz de ônibus descendo o país com passadas por Brasília, Minas, São Paulo e Rio. No Mágico de Oz, a menina sai da sua existência pobre, distante e em preto e branco, vai parar, via furacão, num universo maravilhoso, cheio de aventuras e colorido e tudo que ela quer é voltar pra casa.
Meu amigo Miguel, que foi junto comigo e com o Felipe ver o filme (além da Glenda), é daqueles – igual nós – que sabem do que eu to falando quando penso em “prazer espiritual” ao entrar em contato com um filme do velho, ranzinza e pervertido judeu. A comunicação entre nós e esse desgraçado é olho no olho. É como bater um papo com aquele velho amigo; nem PRAZER ESTÉTICO ou CONTATO COM O SUBLIME, nada dessas coisas – To falando de papo – não furado... hahaha... como é bom rir das eternas piadas, dos sempiternos deboches, dos perversos fetiches e outros quejandos. Impecável pode não ser a obra do safado, mas o papo é um bálsamo pra nhaca da mediocridade que ceceia o dia-a-dia.
Ah uma loirinha de calcinha, camisola e meias de ninfeta, um comediante sentindo e refletindo o absurdo da vida, as excentricidades do meio cultural novayorkino, as gags intelectuais referenciais, a metalinguagem auto-depreciativa. Roteiro filmado, programa de tv, stand-up ensaiado. O que Woody Allen quer maquiar? Nada. Ele é o que é, faz o que faz. Gênio? Whatever. Artista? Woody Allen é um velho amigo. Sensível, inteligente, arrogante, criativo e engraçado pra caralho – como todos os meus grandes amigos.
A gente sabe que existem maravilhas naturais pra se visitar, catedrais monumentais pra se contemplar, sensações inefáveis pra experimentar, mas sabemos também da existência do prazer do nosso humilde e honesto lar – pouco importa suas características perante outras em banca de julgamento final.
Como diz o meu amigo Miguel: não se mata fome de amendoim com filé mignon.
Se isso é uma crítica? Um ensaio? Um depoimento? Whatever works.

Mateus Moura.

Um comentário:

  1. Miguel Haoni

    hahahahahahhahahaha.
    sensacional mano velho.
    Tens que reunir numa publicação estes teus textos.

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