Muita notícia importante hoje para o cinema paraense.
Os frutos de Santarém, das sementes plantadas pelo Inovacine, são uma glória. Cineclube Puraqué reestreando com “Fellini oito e meio” e Cineclube Casa Brasil estreando com “Bastardos Inglórios”. Não só estão programando atividades cineclubistas, mas estão passando os melhores filmes do mundo! E exatamente os filmes que deixamos lá... é com um orgulho e uma satisfação imensa que recebo esta notícia. A sensação é de que o ‘trampo’ realmente dá certo. Semana passada foi Soure, aguardamos ansiosos a inauguração do Cine Cruzeirinho. Semana que vem é Bragança.
Hoje, na Escola de Samba Deixa Falar, na cidade velha, exibimos três filmes de realizadores paraenses. Houve a estréia de “Filho de Xangô”. E essa é a segunda grande notícia: Marcio Barradas (diretor de O Mastro de São Caralho - que figurou entre os 10 melhores filmes do ano passado escolhidos pela APJCC) só melhora. Seu novo filme é filmado em Vigia, tem 30 minutos, e é o que mais me impressionou no cinema esse ano.
Com a bagatela de 3.000 reais, sem atores, produção independente, dirigindo, fotografando, musicando e montando, Barradas é um autor máximo, e um artesão em plena ascensão.
Poderia falar que ele é o Rossellini mosqueirense, o Glauber marajoara, mas Marcio Barradas não é nada mais nada menos que Marcio Barradas. É um estilo de personalidade forte o que se percebe em “Icoaraci”, “Poeta da praia”, e nesse “Filho de Xangô”.
Atrás de um realismo genuíno, Barradas acredita, proeminentemente, nas cenas de “fuleragem” entre amigos, de “sacanagem” entre amantes, de contação de estórias, de papagaios perambulando nos tetos, de roda de maconha, de birita com bilhar, de vendedor de picolé em ônibus, de batuque, de dança, de flerte, de acordar ‘bodado’ no sol quente. Se toda grande ficção aspira documentário e vice-versa, Barradas sabe o caminho das pedras. E acredita salientemente no superficial – aquilo que está na superfície. E no cinema -máquina capaz de captar os segredos do óbvio.
Em 30 minutos, como em “A poeta da praia”, o cineasta quer mostrar o seu potencial enquanto diretor. Experimenta a linguagem cinematográfica e colhe cenas poderosas como o banho de lua-luz que recebem os amantes numa ‘putadinha’ no rio, o ribeirinho desesperado perdido no verde envolventemente calmo da floresta, o travelling e o zoom que não acaba no enforcamento deste, a sensorialmente envolvente cena final onde conjuga sobreposições, zooms, câmera na mão em movimentos ousados, um contraluz gritante, criando assim, com imagem-movimento em paradoxal originalidade, o ritmo do batuque de xangô que transborda a trilha sonora.
Sincero, o cinema de Marcio Barradas impressiona por sua honestidade e integridade. Não tendo pena de si mesmo por sua condição sócio-econômica ou de estar à margem do grande circuito, ou negligenciando o trato de seu filme com desculpas de falta de recursos, o diretor recebe minha maior admiração e respeito. Que continue a produzir, e que me chame da próxima vez se precisar quem varra o chão.
“Só o profeta enxerga o óbvio” (Nelson Rodrigues)
Mateus Moura (APJCC – 04/2009)
oi Mateus,
ResponderExcluirAmir Labaki na introdução do livro, " O Cinema dos anos 80", em 1990, escreveu:
" Na década passada, fomos caçadores de mitos perdidos,zeligs em busca de modelos mesmo transitórios, duplos de astros, voyeurs mais que portagonistas de melodramas de terceira geração.Cabeças feitas de sombras , fizemos da cinefilia, religião, dos cinemas catedrais, dos vídeos, oratórios domésticos, da pipoca, nossa hóstia. O Cinema, não a cocaina, foi a droga típica do curto verão yuppie.
E você cineclubista o quem a dizer no final da 1ª década do século XXI
oi
ResponderExcluiroi Mateus me parece que entendi como funciona esta postagem, vamos lá! eu tinha escrito na postagem que se perdeu o seguinte:
ResponderExcluirNa introdução do Livro O Cinema dos Anos 80, escrita por Amir Labakai em dezembro de 1990, vou extrair o seguinte trecho:
"Na década passada, fomos caçadores de mitos perdidos,zeligs em busca de modelos mesmo transitórios,duplos de duplos de astros,voyeurs mais do que protagonistas de melodramas de terceira geração. Cabeças feitas de sombras, fizemos da cinefilia, religião, dos cinemas catedrais, dos vídeos, oratórios domésticos,da pipoca, nossa hóstia. O Cinema, não a cocaina, foi a droga típica do curto verão yuppie.
Voce cineclubista profissional ao fim da primeira década do século XXI o que tem a dizer sobre esta década?
Virgílio
Minha Associação pretende fazer no final do ano uma mostra dos melhores da década... pretendo escrever um texto adicionando os meus 10+... estou nessa revisão mnemônica que vai desaguar no fim de ano com esse texto, te aviso...
ResponderExcluirabraço
O Márcio Barradas é tão apaixonado pelo que faz que quando quer realizar os seus trabalhos..não mede esforços...Vai..Faz..e depois analisa os resultados...Participei de um de seus trabalhos e confesso q estranhei sua forma de trabalhar pois..com ele tudo é na base da realidade.Nada de maquiagem ou escolha de vocabulário muito ensaiado, se houver improvisos melhor ainda..Agora compreendo o que realmente ele deseja com isso..O caminho é esse chega de Tapar o sol com a peneira..A realidade é dura mas é bom mostrá.la..Dana do Filho de Xangô.
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