quinta-feira, 29 de abril de 2010

Profissão: cineclubista (parte III)

[Inovacine - Bragança - abril - 2010]

Que Bragança é linda todos sabem, é inútil dizer. Que os bragantinos e bragantinas são de notável estima, idem. Porém, sabemos agora, que em questão de cinema - diferente de rádio e tv, que estão em pleno desenvolvimento - o negócio tava fraco.Negrito tava porque acabou de acabar mais uma "Oficina de formação cineclubista" e todos os adolescentes que participaram estão ávidos para estreiar o novo cineclube da cidade. A revelação da magia do cinema se concretizou em palmas e lágrimas na incrível sessão de "A felicidade não se compra".

Me deixou particularmente impressionado a excelência do projeto de Capra. Pois, se ele intentou causar emoção suscitando os valores cristãos de amizade, solidariedade e compaixão aliados ao "way of life" capitalista norte-americano, ele, atemporalmente, conseguiu - afinal estamos a falar em Bragança Pará Brasil 64 anos depois. Foi a primeira vez que eu presenciei num debate pós-filme todos os espectadores brigando para dar a sua opinião. Uma brava garota, com intensas dores nas costas, chorando de dor, permaneceu até o fim da sessão, garantindo no debate que valeu a pena, e que as lágrimas de dor e emoção se confundiram no périplo audiovisual. É um filme infalível em seu intento. Capra consegue, mesmo com os efeitos especiais ultrapassados ao público contemporâneo, expressar todo o espírito que, apelativamente, suscita com a força melodramática de suas sequências. A dispersão, natural no público infanto-juvenil, foi enfeitiçada pelas belas imagens em movimento sob áudio e pelo gentil espírito do cineasta americano. Todos acreditaram no poder do cinema, e eu, no poder de Frank Capra.
Mas nem só de cinema clássico vive o cinema, e disso os adolescentes bragantinos já sabem na ponta da língua. O expressionista "Gabinete do Dr. Caligari" causou estranhamento mas não mexeu com o público. Entretanto, bastou a navalha de Luís Buñuel vazar o olho do bixo-mulher para todo mundo aderir ao surrealismo. Foi a aula de "montagem do circo", onde é ensinado que um cineclubista, além de cinéfilo, publicitário, articulador, crítico, curador, professor e pesquisador, também deve ser um técnico, que os alunos aprenderam a regular data-show, dvd, som e tela para assistir à primeira projeção feita por suas próprias mãos. Todos sentiram o poder do cinema, e eu, o eterno poder dessa obra-prima. "Um cão andaluz", literalmente, é o inefável, a cinegrafia pura.


Viram do bom e do melhor... assistiram e refletiram... bola pra frente...

Mateus Moura (01/05/10)

Um comentário:

  1. Como é lindo esse trabalho.
    Como é lindo o cinema.

    E sobre A Felicidade Não Se Compra duvido que o coração mais gelado resista ao "George Bailey, I will love you until the day I die".

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